aldair dantasEste ano, já foram registrados 127 acidentes na Roberto Freire, ou seja, 25% do total de todo o ano passado
Sara Vasconcelos - repórter
Tribuna do Norte - 19 de março de 2011
Ponto certo de congestionamento em horários de pico, a avenida Engenheiro Roberto Freire também lidera outro ranking no caótico trânsito de Natal, o de acidentes. Somente entre janeiro a 15 de março, foram 123. O número é quase quatro vezes superior aos que ocorreram na Rota do Sol, estrada que liga Ponta Negra ao litoral sul do Estado, no mesmo período (37). E cerca de 25% do total registrado durante todo ano passado, quando foram registrados 574 acidentes. É na avenida onde ocorre o maior número de acidentes envolvendo veículos em Natal, segundo dados do Comando de Polícia Rodoviária Estadual (CPRE).
Felizmente, o número de vítimas é considerado baixo. Em 2010, nos 574 acidentes registrados na estrada de Ponta Negra, 59 pessoas ficaram feridas e apenas uma faleceu, de acordo com o CPRE. A segunda em número de ocorrências é a avenida João Medeiros Filho, antiga estrada da Redinha, na zona Norte, onde foram registrados 107 acidentes este ano e outros 463, em 2010.
Mas o que faz desse corredor o mais inseguro da cidade? A TRIBUNA DO NORTE percorreu a via, no horário mais crítico - entre às 18 e 20 horas - e constatou o que não é novidade para o natalense: a via construída em 1974, não comporta a atual frota. Some a isso, pressa, álcool e imprudência ao volante e se chega a resposta.
A quantidade de veículos força o deslocamento a uma velocidade média de 40 quilômetros/hora, alargando o tempo para percorrer os cerca de oito quilômetros - entre o viaduto e a rotatória de acesso a Rota do Sol - a infindáveis 30 minutos. E não adianta buzinar, acelerar ou tentar encontrar brechas em uma das três faixas. Não há corredor exclusivo de ônibus, nem túneis e viadutos, que ofereçam rotas de fuga, ou seja, é preciso enfrentar a Roberto Freire para chegar a outros destinos. Além disso, a avenida é a mais buscada por quem procura as praias do litoral sul e concentra boa parte de hotéis, restaurantes, bares, shoppings e faculdades da cidade.
"O problema é a malha viária ultrapassada que não comporta o fluxo. Porque a avenida é plana, não apresenta problemas de buracos e é bem sinalizada, o que não a caracteriza como de risco", observa o major Claudio Augusto Ferreira Alves, comandante do policiamento rodoviário estadual em Natal e Grande Natal. Entre os registros, ilustra o comandante, prevalece as colisões posteriores e as transversais (em situação de cruzamento). "É necessário repensar rotas de fugas e acessos, senão em pouco tempo teremos que fazer rodízio", acrescenta o comandante.
Entre soluções sugeridas, estão a construção de viaduto ou túnel na altura para acesso a Capim Macio, Neópolis, Cidade Jardim, Conjunto dos Professores e Via Costeira.
Um dado chama atenção, das quase 600 ocorrências registradas no ano passado, somente um caso é notificado por embriaguez. O número está longe de ser atribuído a eficiência da Lei Seca, no reduto de bares e entretenimento ao longo da via. A baixa incidência é resultado de blitz pontuais e nos casos de acidentes, o uso do bafômetro somente quando a parte prejudicada exige e a acusada, se dispõe. "O índice é baixo pelo amparo legal, que o cidadão tem em não criar provas contra si", avalia major Augusto.
Pontos críticos são conhecidos
Sem dúvida, o "gargalo" mais citado por quem trafega diariamente pela Engenheiro Roberto Freire é o trecho entre o viaduto de Ponta Negra à concessionária de veículos, de mesmo nome. Em menos de um quilômetro, que liga um ponto a outro, estão instalados seis semáforos (três em cada lado da via) para regular o acesso as avenidas transversais: Ayrton Senna e Missionário Gunnar Vigren – sentido Centro-Zona Sul - para quem segue ou sai de Neópolis, respectivamente. E, no sentido contrário, à rua Solon de Miranda Galvão usada por quem se dirige à UFRN. Os limitadores de velocidade acabam contribuindo para lentidão do fluxo.
"É todo dia, várias vezes, há acidente nesse trecho aqui. Não se respeita o trânsito e o excesso de sinais acaba atrasando mais", diz o taxista Manoel Secundo, 60, que atua há 28 anos no perímetro.
Da farmácia, localizada no cruzamento entre as avenidas Roberto Freire e a Gunnar Vigren, a vendedora Mailma Ribeiro já presenciou alguns desastres, causados pelo que ela chama de descompasso. "É recorrente. O que sobra de imprudência dos motoristas, falta em fiscalização. O resultado é esse".
A professora Simone Batista, moradora de Capim Macio, reclama da diferença de tempo gasto para percorrer o trecho de casa ao trabalho, na UFRN. Pela manhã, são gatos dez minutos. "Na volta, a esta hora (18h30), preciso de 30 a 50 minutos e muita paciência. E nem tem batida hoje". O hábito de se manter os veículos na posição original da colisão, lembra ela, piora o tráfego.
A redução brusca de velocidade para não ser pego pela lombada eletrônica, instalada próximo a Caixa Econômica Federal, é para o ambulante Yussafe Torres Moraes Junior, que vende DVDs, a causa dos engavetamentos constantes. "O pior, é gente que passa aqui todo dia", dispara. A retirada do sinal próximo ao Orla Sul, melhoraria o fluxo, na opinião do empresário Marcos Augusto Bezerra. A instalação de um semáforo em frente ao Praia Shopping, por sua vez, reduziu consideravelmente os incidentes ali, afirma o taxista Adailson Jerônimo de Brito.
Falta policiamento fiscalizar fluxo
Nos cerca de oito quilômetros de via estão instalados 15 semáforos, uma lombada eletrônica, próximo a Caixa Econômica Federal, e sensores de velocidade, nas proximidades do Shopping Seaway. No entanto, durante as duas horas de 'rush', em que a TRIBUNA DO NORTE esteve na avenida, não foi encontrada guardas ou viaturas policiais em nenhum trecho.
A deficiência na fiscalização, justifica o major Claudio Augusto, se deve ao acúmulo de tarefas da corporação. O CPRE responsável pelo fiscalização do trânsito nas vias estaduais - as chamadas RNs - também assume os autos de infração lavrados nas demais vias de Natal. "No horário mais crítico acabamos atendendo ocorrências em outros pontos da cidade. Se a Prefeitura assistisse suas vias, a fiscalização nas RNs seria maior. Mas acabamos assumindo as duas identidades", observa. O efetivo do CPRE em Natal, são 75 homens por dia, 25 motos e oito viaturas para atender uma média diária de 35 acidentes na capital.
O secretário-adjunto de trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) Haroldo Maia, reconhece que o trabalho de perícia acaba ficando à cargo do Estado, mas não soube explicar o porque dos guardas de trânsito municipais não lavrarem os autos de infração. "Não tenho esse número no momento, mas o atendimento do CPRE nas vias municipais é baixo. Nossos homens chegam primeiro ao local, acontece que os boletins de ocorrências são feitos pela CPRE que coordena as perícias". Segundo Maia, a Semob irá retomar estudos para atender a essa demanda. A fiscalização nas vias de Natal obedece a um convênio entre Detran e Município.
Publicação: 19 de Março de 2011 às 00:00
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