* Fonte: Tribuna do Norte - 01/ago/2010
Repórter: Roberta Trindade
Foto: Adriano Abreu
Capitão Cláudio mostra para a reportagem da TN um dos pontos mais perigosos da Via Costeira.
O telefone toca. Do outro lado da linha alguém avisa que um ente querido está morto. Foi um acidente de trânsito destes onde os causadores não chegam, sequer, a ir parar na prisão. Respondem a processos que caminham a “passos de tartaruga” e quem sofre mesmo é a família de quem se foi. O mês de julho, em Natal, fechou com saldo negativo quando o assunto é trânsito. Somente na Avenida Senador Dinarte Mariz - a conhecida Via Costeira, na zona Sul da capital, duas pessoas perderam a vida. Não era fim de semana. Não era madrugada. Ninguém estava embriagado (boa parte dos acidentes atende a um desses requisitos).
A bióloga Helena Fagundes Bouth, 25, e o taxista Francisco de Assis Hermínio, 60, engrossam a lista de uma estatística preocupante. De novembro de 2009 até ontem (31 de julho) foram registrados na rodovia 001 (Via Costeira), 82 acidentes com 18 lesionados e duas mortes (Helena e Francisco).
Os dados repassados pela Companhia de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) representam os acidentes que aconteceram após a reforma na Via Costeira. Já de janeiro a outubro de 2009 (antes da reforma), o órgão computou 68 acidentes, com 11 feridos e quatro vítimas fatais.
O comandante do 1º Distrito de Polícia Rodoviária Estadual, capitão Cláudio Augusto Ferreira Alves, percorreu a Via Costeira com a reportagem da TRIBUNA DO NORTE e apontou diversos problemas no trajeto.
Da Praia do Meio até Ponta Negra foram contabilizadas seis curvas, a maioria perigosa. A primeira, por exemplo, localizada em frente ao Hotel Piramide, segundo o capitão, deveria ter uma maior inclinação e ser mais larga porque há condutores de veículos que não conseguem segurar o automóvel ao fazer a curva.
A segunda, nas proximidades do Hotel Parque da Costeira tem abertura normal. Não há perigo.
A terceira curva, que começa no final do Hotel Parque da Costeira, tem declive, sem ângulos corretos. Se o carro não tiver estabilidade “sobra na curva”.
A quarta curva, fica 200 metros antes de chegar no Hotel Imirá. Somente há recuo do lado direito (sentido Praia do Meio até Ponta Negra), porém não há do lado esquerdo (sentido contrário). Segundo o capitão, sem recuo ou acostamento, o condutor do veículo terá que parar em uma das faixas para fazer o retorno. “A faixa esquerda, por exemplo, é a de maior velocidade e isso pode vir a provocar um acidente grave”, justifica.
Na quinta curva, nas proximidades do Hotel Vila do Mar, o problema é o mesmo.
Na sexta curva, (não apresenta muito perigo) localizada nas proximidades do Centro de Convenções, há um aclive muito alto. Quem sai de Ponta Negra e entra na rotatória (como se fosse subir para o Centro de Convenções ou fazer o retorno) não visualiza o veículo que vem em sentido contrário. “Não há sinalização que indique o perigo”, detalha o policial.
Para o capitão, quando se tenta urbanizar a via – deixar mais bonita - se diminui trechos e é o que acontece na rodovia 001. “O canteiro central diminuiu o espaço e piorou o tráfego”, acredita.
DER diz que curvas são as mesmas
Caio Pascoal, diretor de Obras e Operações do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) diz que a Via Costeira foi construída há 30 anos e esta foi a primeira vez que houve reforma. Segundo Caio, o projeto da via necessitava de, pelo menos, cinco metros de largura para calçadas, ciclovias, acostamentos, mas as Ongs, Ministério Público, órgãos ligados ao Meio Ambiente e a prefeitura não permitiram que se entrasse “um milímetro”, no Parque das Dunas. Do outro lado da via, a topografia acidentada também não permitia a mudança. “Com a retirada dos coqueiros foi possível aumentar, um pouco, a via”.
O aumento, segundo o diretor, foi significativo. De 11 metros para 14 metros, ou seja, 7 de pista para cada via, além de 1,20 de canteiro central. A calçada tem 4,5. “É importante frisar que a Via Costeira não é uma rodovia de velocidade”.
Quanto à ciclovia, Pascoal salienta que não há mais, e sim, a calçada mista (que pode ser usada para caminhar ou para andar de bicicleta”.
Questionado sobre as obras que ainda estão sendo realizadas na Via Costeira, Caio diz que neste mês estará tudo pronto. “O redutor de velocidade ainda não funciona. Vamos sinalizar tudo e queremos que a velocidade máxima seja de 70 km. Estará funcionando 24 horas por dia. É esse nosso objetivo”.
Para o diretor, a Avenida Senador Dinarte Mariz é uma região contemplada por belezas naturais e que a maioria dos acidentes é provocada porque os condutores de veículos deveriam trafegar na via sem excesso de velocidade. “Seguir para o trabalho pela Via Costeira, poder ver o mar de perto, junto à natureza, é muito bom”.
A falta de educação no trânsito é o ponto principal apontado pelo diretor como causador de acidentes. “As curvas são as mesmas de antes. É a alta velocidade que provoca os acidentes, os postes caídos no trajeto da via. Agora está muito melhor, tem até retorno. Antigamente não existia”.
Em relação aos postes caídos e o local onde a bióloga morreu, o diretor garante que os postes serão reerguidos rapidamente e que o departamento ainda estuda o que vai fazer para solucionar o problema em frente ao restaurante Tábua de Carne – a maioria dos condutores de veículos fazem uma conversão errada no local. “ O canteiro da pista não continuou naquele loca para beneficiar o restaurante. Aquele é o local mais estreito de toda a rodovia”.
Caio afirma que um semáforo na entrada de Mãe Luiza será colocado. O que poderá também evitar acidentes naquela região. E que onde hoje existe o relógio do Sol será construída uma rótula. Pascoal também falou sobre as coberturas para as paradas de ônibus. “Foi necessário derrubá-las (antigas). Não sei se isso é da nossa competência ou da prefeitura. Tenho dúvidas”.
Quanto aos acostamentos, o diretor de Obras e Operações do DER argumenta: “Na avenida Romualdo Galvão também não tem acostamento”. Caio Pascoal completa dizendo que as festas realizadas na Via Costeira, como a que ocorreu ontem, são inviáveis. “É um movimento grande de veículos, pessoas bêbadas. Tudo isso inviabiliza que o fluxo de veículos escoe normalmente”.
Passageiro fica sob sol forte e chuva
Quem trabalha na Via Costeira, sem dúvida, sofre com o descaso dos gestores públicos. Apenas a empresa Santa Maria é detentora do trajeto e, por isso, os trabalhadores “enchem a boca” para reclamar. Dois são os principais motivos apontados por quem trabalha nos hotéis da região. Na tarde de quinta-feira (29), em alguns pontos da via, várias pessoas esperavam embaixo de sol forte a chegada do transporte coletivo. Anteriormente, coberturas evitavam que passageiros, no aguardo do ônibus, ficassem embaixo de sol forte ou de chuva. Após a reforma da via, não tem mais cobertura em nenhum ponto de ônibus.
Cosme Rosa de Araújo, 42, cozinheiro, diz que é horrível permanecer horas embaixo do sol forte à espera de um transporte coletivo. “Esqueceram que nesta região tem muito trabalhador e que pega ônibus. Senão bastasse o descaso quando chega o transporte parece uma “lata de sardinha”de tão lotado”.
O chefe de garçon Marcos Antônio Silva de Oliveira, 41, é outro que reclama. “É só uma linha de ônibus que faz esse trajeto, por isso, fazem o que querem e abusam da paciência dos passageiros”.
Veridiano Rodrigues, 19, assim como Cosme e Marcos, também estava embaixo do sol esperando o ônibus. “A gente toma chuva, toma sol, toma vento. É assim todo dia. Não tem onde sentar, não tem nada”.
Motoristas andam em alta velocidade
Tarcísio, Lenival, Aguiar e Nogueira são alguns dos vários condutores de veículos que trafegam diariamente na Via Costeira e todos têm a mesma opinião quando o assunto é a reforma na rodovia. No sentido Praia dos Meio à Ponta Negra, as curvas sinuosas, as saídas precárias dos hotéis e a falta de sinalização são fatores que facilitam os acidentes de trânsito na região.
O motorista de ônibus Tarcísio Roberto Santos, 50, trafega diariamente pela via e reclama: “Ficou muito mais perigoso. Os motoristas andam em alta velocidade e desta forma a possibilidade de um acidente é bem maior”.
Lenival de Oliveira, 44, taxista, afirma que são mais curvas. “O perigo de um acidente é visível. Para sair dos hotéis a atenção deve ser redobrada e o excesso de velocidade é freqüente. Vejo isso todo dia aqui “.
Para o bugueiro Francisco Aguiar, 37, a atenção agora deve ser redobrada. O profissional acredita que era mais fácil percorrer a via antigamente. “Quem sai de Ponta Negra e entra na rótula para o Centro de Convenções não visualiza quem vem no sentido contrário. Não sei como ainda não teve uma colisão aqui”.
O motorista Gentil Nogueira entende que a Via Costeira se tornou uma via difícil de percorrer. “Se não tiver muita atenção nas curvas acaba batendo nos postes. Ficou muito sinuosa. À noite, quando diminui a visualização, esta ainda mais perigoso”.
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