TRIBUNA DO NORTE - 19/jul/2009
Foto: Marcelo Barroso
Equipe da Denarc conseguiu contabilizar as bocas de fumo em quatro bairros de Natal e os número impressionam
Um número que impressiona e que representa bem a aflição dos moradores de Natal. Representa também o poder de alcance dos narcotraficantes, o sofrimento de milhares de famílias e a incapacidade das polícias em minimizar a influência do tráfico de drogas, que tomou conta da cidade. Segundo um levantamento feito pela Delegacia de Narcóticos (Denarc) a partir das denúncias realizadas pela população, em apenas quatro bairros da capital são 758 os pontos de venda de entorpecentes.
A informação foi passada semana passada, pelo delegado Odilon Teodósio, que tem a dura missão de tentar diminuir o comércio de drogas em Natal. “É só para se ter uma ideia de como está o tráfico aqui”, disse o delegado. Foram escolhidos os bairros das Quintas, na zona Oeste, onde há 233 bocas de fumo, Ponta Negra, na zona Sul, com 209 pontos, as Rocas, que tem 164 bocas de fumo e o conjunto Vale Dourado, Zona Norte, onde foram registrados 152 pontos de venda.
A título de comparação, o número de pontos de vendas de drogas nesses quatro bairros é 457,35% maior que o número de escolas da rede municipal de ensino em toda a capital, que é de 136. Se for comparado com o número de unidades básicas de saúde na cidade, que é de 76, o número de bocas d e fumo é 501,47% maior. A grande oferta significa um grande número de usuários, o que, por tabela, quer dizer mais trabalho para a polícia em relação a outros delitos. O tráfico de drogas traz com ele uma série de outros crimes como homicídios, assaltos e furtos, que os dependentes cometem em busca de dinheiro para comprar principalmente crack e maconha.
“A gente vai atrás do traficante grande, porque desses pequenos fica complicado”, explicou o delegado Odilon Teodósio, que essa semana comandou a prisão do ex-policial militar Marcelo Marcondes da Luz, que atuava nas Rocas.
O experiente delegado conta que em Natal algumas delegacias distritais colaboram na prisão de traficantes, também fazendo investigações contra o tráfico. Mas defende que a colaboração poderia ser maior, já que a demanda da Denarc fica pesada demais para o efetivo que é reduzido.
Psicanalista conta o drama dos viciados
Quem trabalha há muitos anos na recuperação de dependentes de drogas percebe claramente como a grande oferta das substâncias atrapalha o tratamento e a vida dos usuários. O psicanalista Stenio Saraiva Barros lida diariamente com essas pessoas e vê o sofrimento delas em tentar se afastar de substâncias que são trazidas até em serviço de motoentrega.
Quando falou com a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE, Stenio Saraiva havia acabado de atender minutos antes em seu consultório, um viciado em cocaína, que lhe fizera uma revelação. “Esse rapaz acabou de me dizer que vários desses pequenos hotéis no centro da cidade são pontos de venda de drogas. A droga que você quiser é possível encontrar nesses pontos, segundo o meu paciente”, disse o psicanalista.
Segundo Stênio Saraiva, os pacientes que passam pelo consultório dele já relataram do serviço de “disque-droga”, em que o usuário pode fazer o pedido do entorpecente pelo telefone e uma pessoa vai deixar em uma motocicleta, onde ele estiver. “A facilidade é muito grande. Anos atrás havia um ponto de venda em um shopping da cidade. Era só chegar ao estacionamento, ficar um tempo lá que o cara vinha lhe oferecer”, denunciou.
O professor Stenio ressalta a dificuldade criada no tratamento para os dependentes a partir da facilidade com que a droga é encontrada. Segundo ele, o desejo do dependente sempre aparece, e se a droga está próxima, ele pode saciá-lo e alimentar o vício sem qualquer problema.
A disseminação das drogas pelas ruas tem um outro lado tragicamente importante: cada vez pessoas mais novas têm acesso aos entorpecentes. Saraiva lembra que atendeu em uma instituição pública, um menino de seis anos que já usava crack. “Ele chegou lá com um estado de saúde que precisou ir direto para o hospital. Desnutrido, magro, não tinha forças nem para falar. O estado do menino era deplorável . Ele realmente precisava de ajuda para poder largar o vício e a droga que o estava matando”, disse o psicanalista.
Entrevista: Elias Nobre - Delegado-Geral de Polícia Civil
É possível dar conta de tantos pontos de venda?
Olha, o que dificulta nosso trabalho é o varejo do tráfico. A quantidade realmente é grande e se a gente trabalha só no varejo fica difícil. Por isso, a polícia hoje faz um trabalho direto na fonte. É uma questão de prioridade. Atacando os grandes traficantes e prendendo, estamos combatendo indiretamente os pequenos. Não adianta encher os presídios de peixes miúdos e deixar os tubarões do lado de fora. Claro que já fizemos várias prisões com pequenas quantidades de crack, como três ou quatro pedras, mas é preciso atacar o grande.
As drogas estão espalhadas por todos os bairros. O quanto isso dificulta mais, visto que antes ela se concentrava mais na periferia?
Não só em todos os bairros, como em pequenas cidades do interior. Há cidades que até pouco tempo atrás nem se sabia o que era droga, e hoje a gente vê crianças drogadas no meio da rua. Aliás, este é um problema do país inteiro. É um problema não só de polícia, mas principalmente social.
Certamente o tráfico representa uma demanda maior porque acaba relacionado a outros delitos...
Um exemplo é a quantidade de objetos apreendidos na casa de Marcelo (ex-PM preso por tráfico no bairro das Rocas) esta semana. Todos trocados por drogas. Para conseguir a droga o usuário acaba roubando ou furtando. Vemos inclusive pessoas espancando os pais para conseguir dinheiro. Muitas vezes estamos investigando uma quadrilha de traficantes e prendemos pessoas envolvidas em roubo a bancos, de cargas ou grupos de extermínio.
Adianta fazer trabalho policial, sem um outro de prevenção?
Se não houver o cuidado com o lado social, você pode construir uma cadeia por dia, que todas vão encher.
As delegacias distritais têm sido orientadas a fazer o combate ao tráfico, ou somente a Denarc tem feito?
As distritais precisam fazer de tudo. Claro que a Denarc é uma especializada. Mas apesar da competente equipe que temos lá, e o do delegado que considero um dos melhores do Brasil, a demanda realmente é muito grande.
Qual a importância do “Disque-Denúncia” para a polícia?
É a mais importante fonte de informação que temos. Todas as denúncias são checadas pela pessoal da inteligência e investigadas pela delegacia correspondente. É importante que a população continue denunciando, para que nós possamos continuar fazendo as prisões.
A informação foi passada semana passada, pelo delegado Odilon Teodósio, que tem a dura missão de tentar diminuir o comércio de drogas em Natal. “É só para se ter uma ideia de como está o tráfico aqui”, disse o delegado. Foram escolhidos os bairros das Quintas, na zona Oeste, onde há 233 bocas de fumo, Ponta Negra, na zona Sul, com 209 pontos, as Rocas, que tem 164 bocas de fumo e o conjunto Vale Dourado, Zona Norte, onde foram registrados 152 pontos de venda.
A título de comparação, o número de pontos de vendas de drogas nesses quatro bairros é 457,35% maior que o número de escolas da rede municipal de ensino em toda a capital, que é de 136. Se for comparado com o número de unidades básicas de saúde na cidade, que é de 76, o número de bocas d e fumo é 501,47% maior. A grande oferta significa um grande número de usuários, o que, por tabela, quer dizer mais trabalho para a polícia em relação a outros delitos. O tráfico de drogas traz com ele uma série de outros crimes como homicídios, assaltos e furtos, que os dependentes cometem em busca de dinheiro para comprar principalmente crack e maconha.
“A gente vai atrás do traficante grande, porque desses pequenos fica complicado”, explicou o delegado Odilon Teodósio, que essa semana comandou a prisão do ex-policial militar Marcelo Marcondes da Luz, que atuava nas Rocas.
O experiente delegado conta que em Natal algumas delegacias distritais colaboram na prisão de traficantes, também fazendo investigações contra o tráfico. Mas defende que a colaboração poderia ser maior, já que a demanda da Denarc fica pesada demais para o efetivo que é reduzido.
Psicanalista conta o drama dos viciados
Quem trabalha há muitos anos na recuperação de dependentes de drogas percebe claramente como a grande oferta das substâncias atrapalha o tratamento e a vida dos usuários. O psicanalista Stenio Saraiva Barros lida diariamente com essas pessoas e vê o sofrimento delas em tentar se afastar de substâncias que são trazidas até em serviço de motoentrega.
Quando falou com a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE, Stenio Saraiva havia acabado de atender minutos antes em seu consultório, um viciado em cocaína, que lhe fizera uma revelação. “Esse rapaz acabou de me dizer que vários desses pequenos hotéis no centro da cidade são pontos de venda de drogas. A droga que você quiser é possível encontrar nesses pontos, segundo o meu paciente”, disse o psicanalista.
Segundo Stênio Saraiva, os pacientes que passam pelo consultório dele já relataram do serviço de “disque-droga”, em que o usuário pode fazer o pedido do entorpecente pelo telefone e uma pessoa vai deixar em uma motocicleta, onde ele estiver. “A facilidade é muito grande. Anos atrás havia um ponto de venda em um shopping da cidade. Era só chegar ao estacionamento, ficar um tempo lá que o cara vinha lhe oferecer”, denunciou.
O professor Stenio ressalta a dificuldade criada no tratamento para os dependentes a partir da facilidade com que a droga é encontrada. Segundo ele, o desejo do dependente sempre aparece, e se a droga está próxima, ele pode saciá-lo e alimentar o vício sem qualquer problema.
A disseminação das drogas pelas ruas tem um outro lado tragicamente importante: cada vez pessoas mais novas têm acesso aos entorpecentes. Saraiva lembra que atendeu em uma instituição pública, um menino de seis anos que já usava crack. “Ele chegou lá com um estado de saúde que precisou ir direto para o hospital. Desnutrido, magro, não tinha forças nem para falar. O estado do menino era deplorável . Ele realmente precisava de ajuda para poder largar o vício e a droga que o estava matando”, disse o psicanalista.
Entrevista: Elias Nobre - Delegado-Geral de Polícia Civil
É possível dar conta de tantos pontos de venda?
Olha, o que dificulta nosso trabalho é o varejo do tráfico. A quantidade realmente é grande e se a gente trabalha só no varejo fica difícil. Por isso, a polícia hoje faz um trabalho direto na fonte. É uma questão de prioridade. Atacando os grandes traficantes e prendendo, estamos combatendo indiretamente os pequenos. Não adianta encher os presídios de peixes miúdos e deixar os tubarões do lado de fora. Claro que já fizemos várias prisões com pequenas quantidades de crack, como três ou quatro pedras, mas é preciso atacar o grande.
As drogas estão espalhadas por todos os bairros. O quanto isso dificulta mais, visto que antes ela se concentrava mais na periferia?
Não só em todos os bairros, como em pequenas cidades do interior. Há cidades que até pouco tempo atrás nem se sabia o que era droga, e hoje a gente vê crianças drogadas no meio da rua. Aliás, este é um problema do país inteiro. É um problema não só de polícia, mas principalmente social.
Certamente o tráfico representa uma demanda maior porque acaba relacionado a outros delitos...
Um exemplo é a quantidade de objetos apreendidos na casa de Marcelo (ex-PM preso por tráfico no bairro das Rocas) esta semana. Todos trocados por drogas. Para conseguir a droga o usuário acaba roubando ou furtando. Vemos inclusive pessoas espancando os pais para conseguir dinheiro. Muitas vezes estamos investigando uma quadrilha de traficantes e prendemos pessoas envolvidas em roubo a bancos, de cargas ou grupos de extermínio.
Adianta fazer trabalho policial, sem um outro de prevenção?
Se não houver o cuidado com o lado social, você pode construir uma cadeia por dia, que todas vão encher.
As delegacias distritais têm sido orientadas a fazer o combate ao tráfico, ou somente a Denarc tem feito?
As distritais precisam fazer de tudo. Claro que a Denarc é uma especializada. Mas apesar da competente equipe que temos lá, e o do delegado que considero um dos melhores do Brasil, a demanda realmente é muito grande.
Qual a importância do “Disque-Denúncia” para a polícia?
É a mais importante fonte de informação que temos. Todas as denúncias são checadas pela pessoal da inteligência e investigadas pela delegacia correspondente. É importante que a população continue denunciando, para que nós possamos continuar fazendo as prisões.
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