Tribuna do Norte - 5 de Maio de 2011
Yuno Silva - repórter
A simbólica flor de lótus, que contraria previsões pessimistas e brota em meio ao lodo, é a prova mais cabal da possibilidade de transformar fel em mel. Planta sagrada em países da Ásia, o lótus sintetiza perfeitamente o poder de transformação social proporcionado pelo Grupo Cultural AfroReggae em comunidades do Rio de Janeiro – um exemplo já exportado para países como Holanda, Inglaterra, China e Índia. Prestes a completar 18 anos de atividades em agosto próximo, o AfroReggae aposta na bem sucedida fórmula de combater (e vencer) violência com arte e Cultura, e um de seus pupilos, Vitor Onofre, desembarca em Natal nesta quinta-feira para falar sobre o êxito do projeto durante a 10ª Semana de Antropologia da UFRN.
Em cartaz até amanhã (sexta, dia 6) no Auditório B do Centro de Ciências humanas, Letras e Artes da Universidade Federal (CCHLA/UFRN), a programação do evento é aberta ao público e inclui mostra de vídeos, palestras, debates, apresentação de pesquisas sobre Antropologia visual, exposição fotográfica e performances artísticas. O tema desta Semana de Antropologia gira em torno de reflexões sobre as "Imagens da Cidade", e Onofre participa hoje, logo mais às 19h, da mesa redonda "Movimentos Sociais e Comunidade", ao lado da arte educadora Vera Santana, coordenadora do projeto Conexão Felipe Camarão. O acesso é gratuito.
Um dos coordenadores do Núcleo Vigário Geral e assessor de projetos, Vitor Luiz Onofre Alves tem 31 anos e está no AfroReggae desde os 13. Sonhador convicto, afirma que se "não estivesse no AfroReggae talvez teria seguido o caminho de muitos amigos meus: que se envolveram com o tráfico e todos morreram." Além de Vigário Geral, onde tudo começou, o AfroReggae também mantém Núcleos em Parada de Lucas, Morro do Cantagalo, Complexo do Alemão e Jardim Nova Era (Nova Iguaçu). A próxima comunidade a ser 'ocupada' pelo projeto será a Vila Cruzeiro, Penha – um dos cenários do recente conflito que mobilizou, em novembro do ano passado, as Forças Armadas e a Polícia Militar carioca. Confira entrevista concedida com exclusividade à TRIBUNA DO NORTE:
O AfroReggae tem várias frentes de atuação. Como é seu trabalho dentro do projeto?
Comecei fazendo oficina de percussão, capoeira e teatro (Trupe da Saúde). Com o tempo, me tornei agente de projetos (auxiliar do coordenador de Núcleo) e em seguida me tornei coordenador do Núcleo de Vigário Geral, onde fiquei por seis anos. Em dezembro de 2010, fui convocado para uma nova missão: assumir a função de assessor de projetos no escritório do Afroreggae. Hoje faço palestras sobre o projeto e ajudo no andamento de atividades para que os trabalhos não parem.
Qual a principal motivação para você participar do AfroReggae?
Sou nascido e criado em Vigário Geral, onde histórico sempre foi de violência e na época não acreditava que algo pudesse ser diferente. Mas aí conheci o grupo de percussão e pela primeira vez ouvi algo que não era o som dos tiros. Quando você mora em uma favela, gueto, morro, comunidade, não importa muito se é negro ou nordestino, você acaba sofrendo muito com a violência policial. Sem aguá, luz, sem direito a alimentação a educação e vivendo o tempo todo ao lado de traficantes armados e drogas rolando o tempo todo, é muito difícil ter uma perspectiva de vida. Quando vi o AfroReggae pela primeira vez, senti que era caminho, que iria mudar minha vida.
Quais as áreas culturais e artísticas desenvolvidas pelo projeto?
No AfroReggae temos oficinas de percussão, música, dança (afro, balé, de salão), capoeira, história em quadrinhos, basquete de rua, tai chi chuan, circo, teatro, violino, informática.
Houve algum tipo de resistência ou boicote nas comunidades? Qual a relação dos Núcleos com traficantes?
Nunca houve um resistência por parte do trafico por vários motivos: primeiro por que que o AfroReggae nunca aceitou nada vindo dele. Tudo o que fazemos é para a comunidade. Outro ponto é que os próprios traficantes não querem ver seus filhos e familiares envolvido com o tráfico – eles sabem que a vida que levam só tem dois caminhos: a cadeia ou a morte.
Como foi o processo para se conquistar patrocinadores e apoio público?
Trabalhamos durante anos sem ter um patrocinador, o que tínhamos eram pequenas contribuições. Começamos nosso trabalho em uma época que nem os empresários nem governantes olhavam para esse tipo de lugar. Hoje o AfroReggae tem muitos parceiros e patrocinadores, inclusive com o Governo do Estado do RJ.
Hoje o AfroReggae é sinônimo de projeto social vencedor. A partir de que momento vocês perceberam que a iniciativa tinha deslanchado?
Acreditávamos desde o início que fosse dar certo, só não imaginamos que cresceria tanto em tão pouco tempo. Hoje o AfroReggae mantém 74 projetos.
Você pode enumerar alguns benefícios sociais conquistados? Efeitos práticos?
Temos jovens que passaram pelo AfroReggae e foram tocar na banda O Rappa. Outros que foram para grandes circos como Cirque du Soleil (Canadá) e Ringling Brothers (EUA). A maioria dos professores de percussão e monitores foram formados pelo próprio AfroReggae. Porém, o que fazemos é formar o cidadão para que esteja preparado para a vida. Não faixa etária específica para participar do projeto.
A simbólica flor de lótus, que contraria previsões pessimistas e brota em meio ao lodo, é a prova mais cabal da possibilidade de transformar fel em mel. Planta sagrada em países da Ásia, o lótus sintetiza perfeitamente o poder de transformação social proporcionado pelo Grupo Cultural AfroReggae em comunidades do Rio de Janeiro – um exemplo já exportado para países como Holanda, Inglaterra, China e Índia. Prestes a completar 18 anos de atividades em agosto próximo, o AfroReggae aposta na bem sucedida fórmula de combater (e vencer) violência com arte e Cultura, e um de seus pupilos, Vitor Onofre, desembarca em Natal nesta quinta-feira para falar sobre o êxito do projeto durante a 10ª Semana de Antropologia da UFRN.
Integrante do Projeto AfroReggae, entidade bem-sucedida de combate à exclusão, Vítor Onofre conta sua experiência na Semana de Antropologia da UFRN
Em cartaz até amanhã (sexta, dia 6) no Auditório B do Centro de Ciências humanas, Letras e Artes da Universidade Federal (CCHLA/UFRN), a programação do evento é aberta ao público e inclui mostra de vídeos, palestras, debates, apresentação de pesquisas sobre Antropologia visual, exposição fotográfica e performances artísticas. O tema desta Semana de Antropologia gira em torno de reflexões sobre as "Imagens da Cidade", e Onofre participa hoje, logo mais às 19h, da mesa redonda "Movimentos Sociais e Comunidade", ao lado da arte educadora Vera Santana, coordenadora do projeto Conexão Felipe Camarão. O acesso é gratuito.
Um dos coordenadores do Núcleo Vigário Geral e assessor de projetos, Vitor Luiz Onofre Alves tem 31 anos e está no AfroReggae desde os 13. Sonhador convicto, afirma que se "não estivesse no AfroReggae talvez teria seguido o caminho de muitos amigos meus: que se envolveram com o tráfico e todos morreram." Além de Vigário Geral, onde tudo começou, o AfroReggae também mantém Núcleos em Parada de Lucas, Morro do Cantagalo, Complexo do Alemão e Jardim Nova Era (Nova Iguaçu). A próxima comunidade a ser 'ocupada' pelo projeto será a Vila Cruzeiro, Penha – um dos cenários do recente conflito que mobilizou, em novembro do ano passado, as Forças Armadas e a Polícia Militar carioca. Confira entrevista concedida com exclusividade à TRIBUNA DO NORTE:
O AfroReggae tem várias frentes de atuação. Como é seu trabalho dentro do projeto?
Comecei fazendo oficina de percussão, capoeira e teatro (Trupe da Saúde). Com o tempo, me tornei agente de projetos (auxiliar do coordenador de Núcleo) e em seguida me tornei coordenador do Núcleo de Vigário Geral, onde fiquei por seis anos. Em dezembro de 2010, fui convocado para uma nova missão: assumir a função de assessor de projetos no escritório do Afroreggae. Hoje faço palestras sobre o projeto e ajudo no andamento de atividades para que os trabalhos não parem.
Qual a principal motivação para você participar do AfroReggae?
Sou nascido e criado em Vigário Geral, onde histórico sempre foi de violência e na época não acreditava que algo pudesse ser diferente. Mas aí conheci o grupo de percussão e pela primeira vez ouvi algo que não era o som dos tiros. Quando você mora em uma favela, gueto, morro, comunidade, não importa muito se é negro ou nordestino, você acaba sofrendo muito com a violência policial. Sem aguá, luz, sem direito a alimentação a educação e vivendo o tempo todo ao lado de traficantes armados e drogas rolando o tempo todo, é muito difícil ter uma perspectiva de vida. Quando vi o AfroReggae pela primeira vez, senti que era caminho, que iria mudar minha vida.
Quais as áreas culturais e artísticas desenvolvidas pelo projeto?
No AfroReggae temos oficinas de percussão, música, dança (afro, balé, de salão), capoeira, história em quadrinhos, basquete de rua, tai chi chuan, circo, teatro, violino, informática.
Houve algum tipo de resistência ou boicote nas comunidades? Qual a relação dos Núcleos com traficantes?
Nunca houve um resistência por parte do trafico por vários motivos: primeiro por que que o AfroReggae nunca aceitou nada vindo dele. Tudo o que fazemos é para a comunidade. Outro ponto é que os próprios traficantes não querem ver seus filhos e familiares envolvido com o tráfico – eles sabem que a vida que levam só tem dois caminhos: a cadeia ou a morte.
Como foi o processo para se conquistar patrocinadores e apoio público?
Trabalhamos durante anos sem ter um patrocinador, o que tínhamos eram pequenas contribuições. Começamos nosso trabalho em uma época que nem os empresários nem governantes olhavam para esse tipo de lugar. Hoje o AfroReggae tem muitos parceiros e patrocinadores, inclusive com o Governo do Estado do RJ.
Hoje o AfroReggae é sinônimo de projeto social vencedor. A partir de que momento vocês perceberam que a iniciativa tinha deslanchado?
Acreditávamos desde o início que fosse dar certo, só não imaginamos que cresceria tanto em tão pouco tempo. Hoje o AfroReggae mantém 74 projetos.
Você pode enumerar alguns benefícios sociais conquistados? Efeitos práticos?
Temos jovens que passaram pelo AfroReggae e foram tocar na banda O Rappa. Outros que foram para grandes circos como Cirque du Soleil (Canadá) e Ringling Brothers (EUA). A maioria dos professores de percussão e monitores foram formados pelo próprio AfroReggae. Porém, o que fazemos é formar o cidadão para que esteja preparado para a vida. Não faixa etária específica para participar do projeto.
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