ELIANA LIMA / ABELINHA / TRIBUNA DO NORTE - 28/out/2009
Ao contrário do que a referida carta diz, quem estava na reunião demonstrou muita preocupação, diante da precariedade da argumentação técnica apresentada, assim como a precariedade do material didático exibido de uma forma geral.
Para um observador atento, a cena parecia até ter sido feito de propósito, para deixar dúvidas no interlocutor - no caso elesrama platéia, que não entenderam bulhufas do que estava sendo - mal - apresentado.
O melhor exemplo disso foi quando a promotora Gilka da Mata perguntou se os pescadores de Ponta Negra haviam sido consultados sobre os efeitos da obra, ou se os estudos contratados pela CAERN levavam em consideração a biota marinha da região e os potenciais impactos sobre ela, decorrentes da obra.
A CAERN contra-argumentou dizendo que tinha sido considerado o pior cenário - ou seja - descarte dos efluentes em cima de uma barreira de corais.
"Pura balela! Só quem quis acreditou!", diz Eduardo Bagnoli, presidente da Associação dos Moradores, Empresários e Amigos de Ponta Negra - AMEPONTANEGRA, que na ocasião representava a ABIH-RN.
Se Eduardo não entendeu, imagine a população leiga.
Para se ter idéia, Bagnoli é mestre em geologia, com especialização em dinâmica costeira, especialização em turismo e arqueologia, coordenador do Instituto de Ecoturismo do Brasil para o Rio Grande do Norte, com 32 anos de experiência em viagens por várias regiões do Globo, tendo visitado 45 países.
Voltando ao emissário, a quantidade de matéria orgânica declarada em alto e bom tom pela própria CAERN durante a reunião - 70 mil coliformes fecais por cada 100ml de efluente - quando despejada sobre os corais, entupiriam os mecanismos de filtração e alimentação destes organismos, matando-os em poucas semanas.
"Qualquer biólogo marinho, minimamente preparado, pode confirmar o que eu estou dizendo!", explica Eduardo.
"Os estudos da dinâmica costeira não são consistentes, portanto esses dados não podem ser utilizados na simulação computadorizada criada pelo Dr. Rosman, e aplicado pela Dra. Ada. Mesmo sendo o Dr. Rosman uma assumidade, que reconhecidamente o é, a sua fórmula não funciona quando nela se inserem dados inconsistentes: garbage-in.....garbage-out dizem os sistematicos e sábios norte-americanos nesses casos, ou seja: entre com lixo (dados inconsistentes) e a fórmula - por melhor que seja - te devolve....lixo! (na forma de resultados não confiáveis). Isso, que estou teorizando, se aplica perfeitamente para desqualificar o estudo da simulação da "pluma" de efluentes, que, segundo a Dra. Ada aflorará diante dos olhos incrédulos dos frequentadores da Praia do Forte. Trata-se de um caso clássico e didático de garbage-in.....garbage-out! . A CAERN quer nos fazer crer que esse estudo é valido, mas o bom senso diz que NÃO É!", afirma EB.
Continua - "Eu afirmo que não foram realizados, nem existem disponíveis, estudos com duração adequada, ou seja, que considerem as mudanças na velocidade e direção dos ventos; velocidade, intensidade e direção das correntes marítimas, da carga transportada por elas, etc. Isso, minimamente, deveria abranger um ciclo anual, ou seja, medidas que fossem feitas mês a mês até completar 12 meses e também - o que seria imperioso diante da importância dessa obra - ciclos naturais de longa duração: decenais ou seculares, capazes de detectar eventos - cíclicos ou não - com potencial catastrófico: marés anormalmente altas, efeitos de tsunamis que ocorrem vez por outra, ocasionados por movimentos da crosta terrestre na altura da Cadeia Meso-Atlântica (grande cicatriz aberta no meio do Atlântico, onde a atividade vulcânica e sísmica é freqüente), etc".
Mais: "Eu, que acompanho por fotos aéreas e avaliações de campo, quase que diárias, da praia de Ponta Negra, posso afirmar que a elevação do nível do mar, alegadamente causada pelo derretimento das calotas polares, está causando sérios danos a nossa praia. Entre 1995 e 2008 a praia perdeu incríveis 15m de sua berma original (parte alta e vegetada da praia). O efeito foi notadamente catastrófico no ano passado, quando as marés anormalmente altas destruíram mais de 10 acessos (escadarias e rampas) construídos em 2000, por ocasião da reurbanização pela qual passou Ponta Negra".
Desde a década de 50, época da inauguração da Usina de Paulo Afonso (BA), o Rio São Francisco deixou de levar a sua carga de sedimentos para o mar.
Esse rio, um dos mais importantes do Brasil, era o maior responsável pela alimentação (com o aporte de areia) das praias do Nordeste.
Desde aquele tempo outras barragens foram feitas nesse rio (Sobradinho, Xingó, etc), o que constitui um desastre para as comunidades situadas na costa do Nordeste, que perdem ano após ano seu território para o avanço do mar. As praias nessa condição são ditas "famintas" pelos especialistas em dinâmica costeira, pois perdem mais areia para o mar, do que o aporte natural de sedimentos pode compensar.
É por analogia ao exemplo supra-citado que se explica o porquê da construção dos gabiões (muros) de pedra da Praia de Areia Preta terem obtido, como resultado, o aprisionamento da carga de areia e o conseqüente engordamento daquela praia.
Essa areia, que antes alimentava as praias a jusante de Areia Preta, hoje lhes falta e é por essa razão que as praias do Meio, dos Artistas, e do Forte passaram a sofrer grandes erosões.
"Não acredito que os acadêmicos contratados pela CAERN tenham conhecimento desses fatos , ou que os tenham efetivamente levado em consideração em seus cálculos", enfatiza EB.
- "A Dra. Ada, que acredito seja recém-chegada ao RN, pode e deve - efetivamente - ter trazido uma boa tese de doutorado para a UFRN, mas, provavelmente não possui nem conhecimento, nem experiência acumuladas sobre a dinâmica costeira do RN, que é o meu caso, que moro e estudo a variáveis de nosso litoral há 24 anos!".
Para quem pensa que Eduardo Bagnoli é contra o Emissário, ledo engano.
Ele, conhecerdor profundo do assunto, quer apenas o que a população também: garantias para que não tenhamos um futuro de praias fecais.
E ele reafirma: - "A AMEPONTANEGRA não é contra a construção do Emissário, mas quer alertar a Sociedade para a necessidade de se fazerem estudos adicionais, aprofundados e de longa duração, antes de se fazer a opção por uma alternativa de engenharia que pode vir a prejudicar, de forma irreversível, o meio ambiente, e por conseqüência, toda a nossa Sociedade".
Para um observador atento, a cena parecia até ter sido feito de propósito, para deixar dúvidas no interlocutor - no caso elesrama platéia, que não entenderam bulhufas do que estava sendo - mal - apresentado.
O melhor exemplo disso foi quando a promotora Gilka da Mata perguntou se os pescadores de Ponta Negra haviam sido consultados sobre os efeitos da obra, ou se os estudos contratados pela CAERN levavam em consideração a biota marinha da região e os potenciais impactos sobre ela, decorrentes da obra.
A CAERN contra-argumentou dizendo que tinha sido considerado o pior cenário - ou seja - descarte dos efluentes em cima de uma barreira de corais.
"Pura balela! Só quem quis acreditou!", diz Eduardo Bagnoli, presidente da Associação dos Moradores, Empresários e Amigos de Ponta Negra - AMEPONTANEGRA, que na ocasião representava a ABIH-RN.
Se Eduardo não entendeu, imagine a população leiga.
Para se ter idéia, Bagnoli é mestre em geologia, com especialização em dinâmica costeira, especialização em turismo e arqueologia, coordenador do Instituto de Ecoturismo do Brasil para o Rio Grande do Norte, com 32 anos de experiência em viagens por várias regiões do Globo, tendo visitado 45 países.
Voltando ao emissário, a quantidade de matéria orgânica declarada em alto e bom tom pela própria CAERN durante a reunião - 70 mil coliformes fecais por cada 100ml de efluente - quando despejada sobre os corais, entupiriam os mecanismos de filtração e alimentação destes organismos, matando-os em poucas semanas.
"Qualquer biólogo marinho, minimamente preparado, pode confirmar o que eu estou dizendo!", explica Eduardo.
"Os estudos da dinâmica costeira não são consistentes, portanto esses dados não podem ser utilizados na simulação computadorizada criada pelo Dr. Rosman, e aplicado pela Dra. Ada. Mesmo sendo o Dr. Rosman uma assumidade, que reconhecidamente o é, a sua fórmula não funciona quando nela se inserem dados inconsistentes: garbage-in.....garbage-out dizem os sistematicos e sábios norte-americanos nesses casos, ou seja: entre com lixo (dados inconsistentes) e a fórmula - por melhor que seja - te devolve....lixo! (na forma de resultados não confiáveis). Isso, que estou teorizando, se aplica perfeitamente para desqualificar o estudo da simulação da "pluma" de efluentes, que, segundo a Dra. Ada aflorará diante dos olhos incrédulos dos frequentadores da Praia do Forte. Trata-se de um caso clássico e didático de garbage-in.....garbage-out! . A CAERN quer nos fazer crer que esse estudo é valido, mas o bom senso diz que NÃO É!", afirma EB.
Continua - "Eu afirmo que não foram realizados, nem existem disponíveis, estudos com duração adequada, ou seja, que considerem as mudanças na velocidade e direção dos ventos; velocidade, intensidade e direção das correntes marítimas, da carga transportada por elas, etc. Isso, minimamente, deveria abranger um ciclo anual, ou seja, medidas que fossem feitas mês a mês até completar 12 meses e também - o que seria imperioso diante da importância dessa obra - ciclos naturais de longa duração: decenais ou seculares, capazes de detectar eventos - cíclicos ou não - com potencial catastrófico: marés anormalmente altas, efeitos de tsunamis que ocorrem vez por outra, ocasionados por movimentos da crosta terrestre na altura da Cadeia Meso-Atlântica (grande cicatriz aberta no meio do Atlântico, onde a atividade vulcânica e sísmica é freqüente), etc".
Mais: "Eu, que acompanho por fotos aéreas e avaliações de campo, quase que diárias, da praia de Ponta Negra, posso afirmar que a elevação do nível do mar, alegadamente causada pelo derretimento das calotas polares, está causando sérios danos a nossa praia. Entre 1995 e 2008 a praia perdeu incríveis 15m de sua berma original (parte alta e vegetada da praia). O efeito foi notadamente catastrófico no ano passado, quando as marés anormalmente altas destruíram mais de 10 acessos (escadarias e rampas) construídos em 2000, por ocasião da reurbanização pela qual passou Ponta Negra".
Desde a década de 50, época da inauguração da Usina de Paulo Afonso (BA), o Rio São Francisco deixou de levar a sua carga de sedimentos para o mar.
Esse rio, um dos mais importantes do Brasil, era o maior responsável pela alimentação (com o aporte de areia) das praias do Nordeste.
Desde aquele tempo outras barragens foram feitas nesse rio (Sobradinho, Xingó, etc), o que constitui um desastre para as comunidades situadas na costa do Nordeste, que perdem ano após ano seu território para o avanço do mar. As praias nessa condição são ditas "famintas" pelos especialistas em dinâmica costeira, pois perdem mais areia para o mar, do que o aporte natural de sedimentos pode compensar.
É por analogia ao exemplo supra-citado que se explica o porquê da construção dos gabiões (muros) de pedra da Praia de Areia Preta terem obtido, como resultado, o aprisionamento da carga de areia e o conseqüente engordamento daquela praia.
Essa areia, que antes alimentava as praias a jusante de Areia Preta, hoje lhes falta e é por essa razão que as praias do Meio, dos Artistas, e do Forte passaram a sofrer grandes erosões.
"Não acredito que os acadêmicos contratados pela CAERN tenham conhecimento desses fatos , ou que os tenham efetivamente levado em consideração em seus cálculos", enfatiza EB.
- "A Dra. Ada, que acredito seja recém-chegada ao RN, pode e deve - efetivamente - ter trazido uma boa tese de doutorado para a UFRN, mas, provavelmente não possui nem conhecimento, nem experiência acumuladas sobre a dinâmica costeira do RN, que é o meu caso, que moro e estudo a variáveis de nosso litoral há 24 anos!".
Para quem pensa que Eduardo Bagnoli é contra o Emissário, ledo engano.
Ele, conhecerdor profundo do assunto, quer apenas o que a população também: garantias para que não tenhamos um futuro de praias fecais.
E ele reafirma: - "A AMEPONTANEGRA não é contra a construção do Emissário, mas quer alertar a Sociedade para a necessidade de se fazerem estudos adicionais, aprofundados e de longa duração, antes de se fazer a opção por uma alternativa de engenharia que pode vir a prejudicar, de forma irreversível, o meio ambiente, e por conseqüência, toda a nossa Sociedade".
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