Nominuto.com - 14/nov/2009, por Alisson Almeida
Movimentos sociais alertam para riscos ambientais, sociais e econômicos do projeto que vai lançar dejetos orgânicos no mar sem tratamento adequado.
''Emissário submarino é criminoso'', acusou Eduardo Bagnoli (foto).
A Associação dos Moradores, Empresários e Amigos de Ponta Negra (AME) realizou um protesto, hoje pela manhã, contra a construção do “emissário submarino” da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), obra que levará os dejetos orgânicos de Ponta Negra, Capim Macio e Parnamirim para o alto mar. A ação contou com a participação de moradores, surfistas, pescadores, empresários e diversos movimentos sociais do bairro.
Os manifestantes estenderam uma faixa no Morro do Careca, com a inscrição “Que emissário é esse?”, chamando atenção para o fato de que a população, em nenhum momento, foi ouvida sobre o projeto. De acordo com os organizadores do protesto, o emissário tem falhas estruturais, principalmente no que se refere à ausência de estudos sobre o impacto ambiental e o tratamento terciário dos efluentes (dejetos).
Para Eduardo Bagnoli, geólogo especializado em dinâmica costeira e aquíferos, presidente da AME, o projeto do emissário “é prejudicial ambiental, social, economicamente”. “É um projeto criminoso e indefensável, porque vai poluir a praia que é um dos maiores cartões-postais da cidade”, declarou.
Eduardo destacou que Natal é a última cidade do mundo que ainda opta por um emissário submarino. Ele alertou que a possível poluição provocada pela obra, além do risco à saúde da população, poderá desencadear um “efeito psicológico danoso para os banhistas”, principalmente para os turistas que vêm a Natal em busca das águas mornas da nossa costa urbana.
“Economicamente, o emissário é a ruína de Natal”, sentenciou, argumentando que toda a cadeia do turismo será afetada negativamente. O geólogo afirmou que os estudos nos quais a CAERN se baseou para elaborar o projeto levam em conta dados “inconsistentes”.
A alternativa, apontou, seria fazer um “aquiduto”, espécie de “emissário às avessas”, que, ao contrário do original, reaproveitaria a água dos esgotos em vez de lançá-la ao mar. “O projeto da CAERN só prevê o tratamento secundário dos dejetos, que não limpa a água totalmente. É preciso fazer uma estação de tratamento terciário, reutilizando a água em outras atividades, como na lavagem de pátios, em jardins, em indústrias e ainda no aeroporto multimodal de São Gonçalo do Amarante, que vai demandar grande quantidade de água”, opinou.
Manifestação
Dezenas de surfistas, com suas pranchas levantadas, fizeram uma corrente na areia em defesa da praia de Ponta Negra. Eles se diziam preocupados com o futuro do mar, “a nossa segunda casa”, segundo declarou um dos manifestantes.
Em seguida, os esportistas seguiram para a água, onde mesmo contra o movimento das ondas, fizeram um círculo simbolizando um abraço na praia.
As crianças e adolescentes do “Grupo de Resistência da Lata”, projeto de arte-educação da Vila de Ponta Negra, também participaram do ato com seus tambores feitos de material reaproveitado. O coordenador do projeto, Marcus Vinicius, disse que “a defesa da praia tem muito a ver com o trabalho desenvolvido pelo projeto, que é a luta pela preservação do meio-ambiente e da qualidade de vida na comunidade onde estamos inseridos”.
A moradora Marilene Dantas tomou a iniciativa de colher assinaturas contra o emissário. Em dois dias, segundo ela, quase duas mil pessoas já haviam assinado o documento. “Esse emissário vai causar vários transtornos para a população. A forma correta seria tratar a água, não jogar dejetos no mar sem tratar adequadamente. Nós queremos a forma mais eficaz, não a mais rápida”.
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