Diário de Natal - 29 de julho de 2012
Alvo de disputas, corredor é exemplo marcante da linha tênue entre meio ambiente e crescimento econômico
Corredor hoteleiro ou Área de Preservação Permanente? Pode-se dizer que a Via Costeira está entre esses dois extremos, levantando atualmente mais um debate polêmico sobre sua existência. A pergunta que não quer calar: a avenida pode receber novos empreendimentos? Para um lado definitivamente não. Já para outro, sim, é possível construir mais. Formada hoje pelo embate de posicionamentos radicalmente contrários, a discussão mostra uma complexidade que nos leva ao questionamento se é possível equilibrar as bandeiras do meio ambiente e desenvolvimento econômico.
Polo hoteleiro está em meio a polêmica sobre novas ocupações ou preservação total. Estudo diz que local é área de proteção permanente. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
Desenvolvido e assinado em conjunto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e Superintendência do Patrimônio da União (SPU), o documento de 88 páginas recebe hoje opiniões contrárias dos próprios representantes que compuseram o grupo técnico. Enquanto SPU e Ibama baseiam seus posicionamentos no que diz o relatório, Município e Estado acreditam em alternativas que permitam novas construções.
Bombardeado por críticas da ala a favor das novas construções, o superintendente do Ibama, Alvamar Queiroz, acredita que há incoerência nos novos posicionamentos. "Quando foi feito o grupo todos participaram e assinaram com responsabilidade igual e conscientes das implicações. Não é um documento qualquer que você assina e depois muda", opina. A questão técnica também guia as opiniões da gerente regional da SPU/RN, Yeda Cunha de Medeiros, e do procurador da República Fábio Nesi Venzon, que representa o Ministério Público Federal (MPF) no processo do Hotel da BRA - hoje da empresa NATHFW - o "elefante cinza" embargado que compõe a paisagem da Via Costeira.
Enquanto isso, a Semurb, assim como a Secretaria Estadual de Turismo (Setur) e a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/RN), se apegam à competência do Município em licenciar projetos dentro da cidade. No entendimento deles, o Plano Diretor de Natal (PDN) deveria ser o documento aplicado no processo de licenciamento. De acordo com o PDN, as construções podem ocorrer, desde que respeitem o nível de altura da avenida.
Fora à parte o debate jurídico, algumas vozes que acompanham o processo, como da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e do urbanista Estevão Lúcio dos Santos, que foi um dos técnicos participantes do relatório, defendem um debate mais profundo. "Além dos ambientais, existem aspectos econômicos e sociais", afirma o urbanista. Embora ache difícil que a iniciativa privada cumpra requisitos sociais para a flexibilização da área, o próprio superintendente do Ibama se diz aberto ao diálogo e pede a participação da sociedade no processo. "Se tem um conjunto de segmentos sociais clama por isso, não vamos cercear. Somos flexíveis nesse sentido", ressalta Alvamar Queiroz.
Estado contesta estudo técnico em parecer
Ibama não está sozinho
Compensações ambientais como alternativas
À espera do Ibama nacional
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