Diário de Natal - 19 de agosto de 2012
Pedro Carlos de Lima reconhece a Vila de Ponta Negra pelo colorido. Não podia ser diferente. Já aos 9 anos de idade estava enfurnado em grupos folclóricos. Além das cantigas que carrega hoje como relíquia, aprendeu também a alegria do brincante. Mestre Pedro é filho de pescador, como tantos outros na Vila. Podia ter escolhido o lado cinza, mas preferiu as cores da cultura.
Graça Leal entre os grandes mestres da Vila, Severino, Arraia e Pedro. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
"Sou pescador, também. Saía pra maré já com nove anos, na mesma época que descobri as cantigas. Mas hoje não aguento mais a lida da pesca", conta o mestre, aos 63 anos. Pedro vive da aposentadoria e do dinheiro recebido do aluguel da jangada. "Quando brinco com o Congo ainda me dão 200, às vezes 300 reais, só pra eu não ficar sem nada. Mas não dá pra muita coisa, não. Sustento o Congo sabe-se lá como".
Nem podia. Mestre Pedro é pai de nove filhos. Já tem 16 netos e quatro bisnetos. Todos eles moram com o patriarca em sua casa, em Pium. "Adoro a Vila. Mas houve problema com o vizinho e achei melhor sair porque podia ter problema maior, ne?"E acrescenta: "A Vila já esteve boa. De certos anos pra cá, não tá mais. É muita droga, inseto. Povo de fora querendo bagunçar. Gente que nem conhecemos".
Mestre Pedro nasceu e se criou na Vila. É filho de pescador e fazedor de carvão no mato. E a mãe cuidava da casa. "Nossa comida era farinha pisada no pirão de milho. Mamãe pisava pra gente comer de noite. Hoje se não tiver um frango ninguém gosta. Lá em casa, só de pão, todo dia, são seis reais. No fim do mês é 450 conto só de pão. Afora um quilo de feijão, um de arroz quase todo dia", fala em tom de brincadeira.
Pedro comanda o grupo folclórico mais tradicional da Vila: o Congo de Calçola. Aprendeu tudo com "Zé de Tereza", ali mesmo na Vila. "Comecei como dama, depois galante e fui aprendendo as cantigas. Parei com 30 anos. Quando deu 40 comecei de novo. E só deixo agora quando morrer". O mestre lamentou tanto tempo sem espaço para ensaiar. "Só agora conseguimos o espaço cedido por Graça".
O grupo de Bambelô também é comandado por Mestre Pedro. São 15 anosde história. E este é cria mesmo do mestre. "Do Bambelô eu aprendi com o finado Zé de Aperrião, que já morreu. Ele tinha um Bambelô na Vila. Mas as cantigas dele são uma, e as minhas são outras. As dele são tipo coco de roda. As minhas são coco de bambelô mesmo. Eu mesmo criei", se orgulha.
Eterna brincadeira
E o orgulho vai além. "São 12 pessoas em cada grupo. Só adulto, na faixa de 16 a 30 anos. Mas tem criança que também quer brincar. Todo mundo quer brincar comigo. Se eu quiser botar 20, 30 eu boto porque sei cantar e sei brincar. E é aprovado em todo canto. Desde que eu me entendo de gente sempre teve brincadeira aqui na Vila: Bambelô, Boi de Reis. É um povo acostumado a esse tipo de coisa. E sentencia: "A Vila mesmo hoje não tem muita graça, só quando a gente brinca".
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