Diário de Natal - 6 de junho de 2012
Moradores, turistas e comerciantes pedem soluções urgentes para a praia natalense
Se você olhar, você vai ver. É impossível dar uma volta no calçadão de Ponta Negra e não lembrar do novo slogan da prefeitura do Natal, presente nos comerciais de televisão, inclusive no nobre (e caro) horário entre o Jornal Nacional e Avenida Brasil. Pois bem, em Ponta Negra, se você olhar, leitor, vai ver uma bela baía formada pelo mar, um monumental Morro do Careca, encanto de turistas do mundo inteiro. São muitos atrativos naturais. Mas também há outro olhar em Ponta Negra. O olhar que percebe o calçadão destruído, postes que vieram abaixo, quiosques encostados, lama escorrendo para a praia, lixo acumulado, escuridão à noite. Ponta Negra padece como nunca antes. Os natalenses clamam por socorro.
Calçadão destruído, quiosques desativados e lama espalhada: retrato de uma orla decadente e abandonada. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
As secretarias do município e o Ministério Público, além de órgãos como Ibama, Caern, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, associações de moradores, entre outros, já fizeram vistorias para enumerar os problemas. Pouco adiantou em termos de resultados práticos. Até a UFRN se ofereceu para elaborar um projeto. É caro, disseram as autoridades. Um milhão de reais. O município não tem como pagar, afirmou o estudioso. Enquanto tanta gente discute o que fazer, os moradores, comerciantes, turistas e frequentadores de Ponta Negra pedem para ser ouvidos. Clamam por urgência na solução do problema. Eles são muitos, e fazemum grito de socorro para que alguém, seja prefeitura, governo, iniciativa privada, quem for, que alguém faça algo para que Natal não perca seu cartão-postal.
Maré alta
Ontem à noite foi de lua cheia, para temor do comerciante Alessandro Alves, do Quiosque 15. O receio que a maré alta fosse impiedosa novamente apavorava Alessandro desde as primeiras horas da manhã, quando ele encontrou a equipe de reportagem do Diário de Natal. Ele temia que a maré subisse a ponto de derrubar o restante do trecho que cedeu há três semanas e que retirou o poste e o quiosque onde trabalha do local. "Vi na tábua de marés e vai dar bem alta hoje", contou. Quando este jornal estiver em suas mãos, caro leitor, as águas poderão ter levado o sustento da família de Alessandro e de vários outros comerciantes. Ou poderá ter sido apenas mais um susto, seguido de novo temor da próxima lua cheia.
Nas imediações onde ficava o quiosque de Alessandro o cenário parece de filme. A faixa de areia está tomada de entulhos. Canos espostos levam água suja para a praia. Um poste caiu e outro ameaça ruir. Do poder público, os únicos sinais da presença é o adesivo "interditado", que isola o calçadão destruído, e uma escada de madeira, que dá acesso à praia. "Está um desastre. Comércio ruim, o pessoal se virando como pode para trabalhar, perigo de queda do poste, esse esgoto jorrando. À noite aqui também é escuro, com riscos de assaltos. Parece que não há mais o que fazer. Esperamos melhorias porque a natureza está impiedosa. Virou uma calamidade pública".
Segundo Alessandro, a empresa contratada pela Cosern para cuidar da iluminação em Ponta Negra espera apenas que o pior aconteça. "Alguns trabalhadores me disseram que não tem como vir aqui retirar esse poste que está caindo. O caminhão munck não pode entrar no calçadão com tantas interdições. Disseram que vão aguardar cair para poder tirar. Vamos ver no que vai dar", afirmou. O camelô Jailton Pereira, que trabalha há 10 anos em Ponta Negra, lamenta a situação de Ponta Negra. "Diminuiu muito a frequência dos turistas aqui. Acho até certo tirarem eles daqui por causa dos riscos de acidente. As pessoas só vem aqui, tiram fotos e pouco depois iniciam as obras, mas devagarinho param. Está faltando mais atitude. Que se faça alguma coisa rápida e urgente", protestou.
Quem também pediu um olhar mais atento aos quiosqueiros foi a presidente do Conselho Comunitário do bairro e que faz parte do grupo SOS Ponta Negra, Cíntia Fernanda de Lima. "Aquelas pessoas vivem daquilo, não podem ficar sem trabalhar", disse ela, que afirmou que, na medida do possível, os problemas estão sendo reparados no calçadão, até mesmo com ajuda das associações de trabalhadores e quiosqueiros. Mas a líder comunitária reclama da demora. "Na semana passada fizemos uma reunião sobre o Projeto Orla e se discutiu muito sobre o estudo aprofundado da praia. Acredito que levaria até dois anos. O mar está levando toda a areia e criando bancos de areia e o que a gente vê são as obras andando em ritmo muito lento. A gente sabe que a qualquer momento amaré virá alta e vai derrubar tudo de novo. A maré não dá trégua", diz ela.
Depoimentos
"As obras andam em ritmo muito lento. A gente sabe que a qualquer momento a maré virá alta e vai derrubar tudo de novo. A maré não dá trégua", Cíntia de Lima - SOS Ponta Negra
"Diminuiu muito a frequência de turistas aqui. Está faltando mais atitude. Que se faça alguma coisa rápida e urgente", Jailton Pereira - Camelô
"Tenho medo até da lua cheia. O caminhão munck não pode entrar no calçadão com tantas interdições. Disseram que vão aguardar o poste cair para poder tirar", Alessandro Alves - Comerciante
"Tem esgoto aqui do lado. Está fedendo. Já recomendei a um amigo que nem viesse. Estou decepcionado porque ninguém está fazendo nada", Francisco Jesuíno - Aposentado
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