Tribuna do Norte - 14 de Julho de 2012
Ricardo Araújo - repórter
O decreto determina, ainda, "considerando a urgência da situação vigente, ficam dispensados de licitação os contratos de aquisição de bens necessários às atividade de resposta ao desastre".
A prefeita autorizou que seja posto em prática o Plano Emergencial de Resposta aos Desastres da Comissão Municipal de Defesa Civil (Comdec). O decreto, porém, não detalha o que está contemplado no Plano. Além disso, estão permitidas as convocações de voluntários para reforçar as ações com vistas à resolução dos problemas desencadeados pelo que a Prefeitura de Natal definiu como "desastre". As secretarias municipais poderão dispor de técnicos e equipamentos com o intuito de contribuir para as ações necessárias "à realização da análise de projetos, planos de trabalho, notificação preliminar, avaliação de danos e, posteriormente, recuperação, reconstrução e reparação dos danos causados nos pontos atingidos".
O artigo 6º do decreto discorre sobre a dispensação de processos licitatórios, dada a situação emergencial na qual se encontra a praia de Ponta Negra. Para justificar a medida, a prefeita Micarla de Sousa utilizou o seguinte argumento expresso no documento: "(...) ficam dispensados de licitação os contratos de aquisição de bens necessários às atividades de resposta ao desastre, de prestação de serviços e de obras relacionadas com a reabilitação dos cenários dos desastres, desde que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 dias consecutivos e ininterruptos".
Desde a quinta-feira (12), a chefe do Executivo Municipal estava em Brasília em reunião com a ministra chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Roffmann. Micarla de Sousa, na segunda-feira passada, dia 9, anunciou que somente decretaria, ou não, estado de calamidade pública no calçadão da orla de Ponta Negra após a reunião com a representante do governo federal. No início da noite de ontem, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Natal foi contatada para comentar o resultado do encontro da prefeita com a ministra, mas não atendeu ou retornou às tentativas de contato via telefone celular.
No começo da semana, representantes dos setores que envolvem a atividade turística em Natal, acompanhados do diretor de Infraestrutura do Ministério do Turismo, Deusvaldo Ferreira Lima, sugeriram à prefeita, em reunião realizada no Palácio Felipe Camarão, que fosse decretado estado de calamidade pública. Sob o argumento de era "melhor buscar outras formas de captação de recursos do que fazer promessas e não cumpri-las". Micarla adiou a decisão.
Lima afirmou que a erosão costeira é um problema crônico que atinge todo o litoral brasileiro. No caso de Natal, ele comentou que é preciso definir um cronograma de ações imediatas e, em paralelo, outro de ações a médio e longo prazo. Todos eles, porém, baseados em complexos estudos técnicos que envolvem a movimentação das marés, velocidade dos ventos, dentre outros aspectos.
Calçadão é interditado por tempo indeterminado
Alex RégisDesabamentos devido ao avanço do mar começaram em fevereiro
A partir deste sábado (14), o calçadão de Ponta Negra será interditado para o passeio de pedestres. A decisão foi tomada pelo titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur), Luís Antônio de Albuquerque Lopes, após uma vistoria técnica com representantes de outras secretarias municipais envolvidas com o problema que modificou a paisagem da praia mais famosa da capital potiguar. De acordo com levantamento da Semsur, a extensão dos danos causados no local chegam "a cerca de 300 metros" - aparentemente, os estragos no calçadão correspondem a pelo menos o triplo do divulgado no documento da Secretaria."Vamos interditar o calçadão, até para evitar acidentes com alguma pessoa e por tempo indeterminado", afirmou o secretário. No início da manhã de ontem, outros trechos do calçadão ruíram. A força das marés destruiu ainda mais a estrutura de alvenaria do passeio público e em frente ao King´s Hotel, a calçada já não existe mais. Para transitar pelo local, os turistas, moradores e comerciantes, tinham que caminhar em cima da grama da área pertencente ao empreendimento. Para piorar, uma tubulação estourada da Caern jorrava esgoto in natura para o mar.
"É frustrante, decepcionante uma situação como essa. Numa próxima viagem, não sei se escolherei Natal como destino. Para o visitante, istoé péssimo", relatou o turista paranaense, Silas Moro. A fedentina do esgoto incomodava quem passava pelo local e não se limitava ao trecho relatado. Em mais três pontos, os canos estavam quebrados e a água servida corria em direção ao mar. Algumas 'línguas' negras se formaram e muitos pedestres que se deslocavam pela areia, em decorrência da impossibilidade de percorrer o calçadão com segurança, tinham que enfrentar o "nojo" e sujar o pé.
"Estou fedendo a lama. Além de estar ruim, feio, ninguém coloca uma placa dizendo nada. É um descaso com os turistas. Ninguém alerta, ninguém faz nada. Não estou achando nada de bonito aqui e acho que esta situação é reflexo do descaso público, relatou o casal de turistas paulistas, Eduardo Dalati e Vanessa Gonçalves.
Além dos canos estourados, postes de sustentação de fios de conexão à internet e telefone se misturavam aos entulhos, com fios expostos.
Em diversos pontos do calçadão, alguns quiosques foram removidos pelos proprietários. Com medo de perderem talvez a única fonte de renda, a solução foi fechá-los e posicioná-los de uma forma que a abertura para o público se tornou inviável. Já o quiosqueiro Hilton Nunes, que sobrevive unicamente do que vende na praia, tentava erguer, mais uma vez, uma escada de madeira e sacos de areia.
"É uma situação de holocausto. Meu quiosque está comprometido, estou fazendo gambiarras, mas eu dependo disso aqui. Não posso fechar e deixar de ganhar meu ganha pão", afirmou.
Defesa Civil
O titular da Defesa Civil Municipal, Carlos Paiva, afirmou que a interdição do calçadão para o passeio público "é de suma importância para a Segurança Pública". Ele ressaltou que o principal objetivo da medida é "imperativa à necessidade de proteger a integridade física dos banhistas, turistas, moradores, comerciantes, hoteleiros, vendedores ambulantes e todos os frequentadores do local, além da necessidade urgente de adotar medidas para a recuperação imediata da área". Ele acrescentou, ainda, que embora a decretação do estado de calamidade seja fundamental para acelerar o processo de liberação dos recursos, a situação não será resolvida de imediato. Após a publicação do decreto no Diário Oficial do Município, será necessária a elaboração de um relatório de danos, notificação preliminar e plano de trabalho para ser encaminhado ao Ministério das Cidades. De acordo com dados divulgados pela Prefeitura de Natal, "em torno de 300 metros foram destruídos". A previsão de gastos para recuperação é de R$ 1,8 milhão. O primeiro trecho do calçadão destruído, cerca de 180 metros, está em fase de recuperação e custou R$ 480 mil aos cofres públicos.
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