Entrevista: Fernando Bezerril
A Secretaria de Turismo de Natal (Sectur) começou 2008 com o desafio de divulgar o destino, atuar na captação de eventos e investir em projetos de infra-estrutura e capacitação, mesmo sem contar com um orçamento correspondente às suas necessidades. Nesta entrevista, o titular da pasta, Fernando Bezerril, explica como o órgão faz para driblar a falta de recursos. Ele também anuncia os principais planos para o ano e se manifesta sobre a atual crise da segurança pública e as possíveis conseqüências para a atividade turística.
- Diário de Natal: Quais serão as principais ações da Prefeitura de Natal no segmento de turismo em 2008?
- Fernando Bezerril: Nossas prioridades serão fortalecer o turismo de negócios, que é o segmento dos congressos e feiras, e o turismo de incentivo, que são aquelas viagens de prêmio dadas por grande empresas a funcionários, clientes e parceiros de destaque.
No segundo semestre, receberemos o congresso nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), um evento que deve trazer mais de seis mil advogados a Natal e injetar cerca de R$ 5 milhões na economia da cidade, durante apenas quatro dias. Com relação ao turismo de incentivo, já conseguimos captar uma viagem patrocinada pela Goodyear (multinacional fabricante de pneus).
Esses segmentos são muito lucrativos para qualquer destino, mas ainda engatinham no Brasil, por falta de direcionamento nesse sentido. São eventos que às vezes trazem mil e quinhentas ou duas mil pessoas, mas proporcionam grande retorno financeiro para a cidade.
Para colocar Natal neste circuito estamos divulgando o destino em eventos nacionais e internacionais, inclusive através da entrega de kits à imprensa de fora de Natal.
DN - O orçamento da Sectur é suficiente para os projetos do órgão?
- Não. Hoje temos um orçamento de cerca de R$ 3 milhões, quando precisaríamos de pelo menos R$ 12 milhões. Os convênios com outros órgãos e instituições é que viabilizam nossos projetos. Não temos dinheiro, mas sabemos quem tem e sabemos correr atrás. Recentemente, firmamos um convênio com a Fundação Banco do Brasil, no valor de R$ 250 mil, para realizar cursos de capacitação em conscientização turística, espanhol e inglês, voltados para bugueiros, taxistas, funcionários de hotel e outras funções relacionadas ao turismo. São cursos de alto custo individual, cerca de R$ 3 mil cada, que serão gratuitos para os alunos.
Através de um convênio com o Ministério do Turismo, no valor de R$ 500 mil, vamos implantar quiosques de informações turísticas em pontos como a praia da Redinha, a Pedra do Rosário, a entrada da cidade e a praia de Ponta Negra. Esse projeto inclui a instalação de postos policiais também.
As emendas parlamentares também são muito importantes para nosso trabalho. Uma emenda de R$ 500 mil da senadora Rosalba Ciarlini (DEM/RN) vai garantir a construção de um pequeno terminal náutico também na região da Pedra do Rosário, que servirá de porto para embarcações particulares e para passeios turísticos no Rio Potengi.
Também estamos firmando uma parceria com o Hotel Escola Barreira Roxa e com a ABIH-RN (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio Grande do Norte) para transformar o prédio do antigo Grande Hotel, da Ribeira, num albergue da juventude.
Outro projeto nosso, que poderá se concretizar em parceria com empresas privadas e o poder público, é a transformação da Rampa em um museu sobre a 2º Guerra Mundial.
Esse problema da limitação orçamentária atinge todos os níveis do governo. A falta de recursos do próprio Ministério do Turismo é proporcionalmente equivalente à nossa, pode ter certeza.
DN - Em que passo está o projeto da Marina Natal?
- A Marina será construída. O projeto já obteve licenças de vários órgãos, como o Iphan (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o Complan (Conselho de Planejamento Urbano de Natal), além da Aeronáutica, do Exército e da Marinha. O Ministério público, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Idema-RN (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte) e o Ministério Público aguardam a regulamentação do projeto para também dar aval ao projeto.
O processo é demorado porque o turismo náutico é uma novidade no Brasil e até pouco tempo atrás não havia legislação relativa. Mas a marina é um projeto de grande importância, porque será o maior e melhor centro do tipo no Nordeste, com capacidade para 450 barcos. Serão R$ 100 milhões em investimentos privados. Acredito que a marina fique pronta dentro de dois anos.
DN - Como o senhor analisa o mau momento da segurança pública?
- Natal ainda é uma cidade segura, mas está se aproximando da marca de um milhão de habitantes e fica cada vez mais concorrida turisticamente e economicamente. O aumento da violência é um efeito colateral disso tudo. Uma cidade "em alta" não atrai só gente boa. Atrai também muito bandido e isso é normal. Mas devemos fazer de tudo para coibir a criminalidade, para que a cidade não perca a imagem de segura, algo que lhe é muito valioso inclusive no que diz respeito ao turismo. Casos como o recente assalto ao restaurante Tábua de Carne, em Ponta Negra, são muito graves e não podem se repetir.
DN - O prefeito Carlos Eduardo Alves tem sido sensível aos pleitos de sua secretaria?
- A todos os pleitos. Não tenho outra palavra que não de agradecimento a esse cara, que tem grande visão e sabe da importância do turismo para a cidade.
DN - Na sua opinião, o setor está mesmo em crise?
-Segundo alguns, está, mas eu discordo. Nossa alta-estação deste ano, que tinha recebido previsões sombrias por parte de alguns hoteleiros, registrou ocupações médias de 80% nos hotéis e de quase 100% nas pousadas. Os operadores de vôos charter, que vez por outra ameaçam abandonar o destino por discordar das políticas públicas relativas ao turismo, quase sempre continuam em Natal porque sabem que o destino é quente, tão quente que nunca é incluído entre as ofertas das companhias aéreas naquelas promoções de fim de semana que vendem passagens com 90% de desconto. Nossa hotelaria tem mais de 40 mil leitos, contra 12 mil de Maceió. Para onde o natalense viaja, só ouve elogios à sua cidade.
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