Catadores e bichos ainda são uma realidade em 26 lixões espalhados pelo RN
Foto: Cedida
A administração do lixo é hoje uma das grandes preocupações na organização urbana. Instituições e entidades ambientalistas têm divulgado números astronômicos sobre o assunto. No Brasil, cada pessoa gera, em média, um quilo de lixo por dia. Por ano, são produzidos 55 trilhões de quilos. Somente em Natal, 20 mil quilos ao mês.
A pergunta é: como guardar tanto lixo sem impactar o meio ambiente? Aproximadamente 93% do lixo produzido no Rio Grande do Norte tem destinação inadequada, segundo dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).
Mas, se levado em conta índices da população assistida, o número cai para 52%. Isso porque a população da Grande Natal e de Mossoró - que abrange mais da metade do índice habitacional do Estado - tem adequação ambiental para o lixo produzido. Mas o que se vê nos outros municípios potiguares é um estado calamitoso de lixões a céu aberto.
O ex-presidente da Urbana e hoje assessor técnico da Semarh, Sérgio Pinheiro, visitou 26 lixões pelo Estado no ano passado e constatou absurdos de desrespeito com o meio ambiente e com o dinheiro público em praticamente todos eles.
Resíduos hospitalares jogados e queimados sem controle. Catadores e bichos disputam lixos. E entre o lixo, bichos. Crianças, também. No lixão de Caicó, catadores misturam restos de bebida alcóolica e tomam ao final do ‘‘expediente’’. Em São José do Campestre, o amontoado de lixo cobriu até a tubulação da adutora Monsenhor Expedito. Usinas de Reciclagem paradas em vários deles, como em Acari, considerada das cidades mais limpas do país. Central de Reciclagem depredada em Guamaré. À margem da BR 304, um lixão se forma, próximo a Angicos. Em Currais Novos, um lixão dentro da cidade aumenta índices negativos da dengue.
Até criação de porcos se vê no lixão de João Câmara. Lá, a fossa recolhida pela prefeitura encontra a lagoa de estabilização dentro do lixão. Parece piada, mas em Parelhas, uma placa na entrada do lixão diz: ‘‘Obrigado por ter escolhido o local certo para colocar seus desperdícios. Se precisar da chave do cadeado procure ou ligue 0800 281 0530 (um número da prefeitura)’’
Esses são apenas alguns exemplos vistos e fotografados por Sérgio Pinheiro. Segundo ele, a maioria dos 26 lixões visitados recebeu recursos da Petrobras para cercamento da área e construção de guaritas e estrutura de banheiro e escritório. Tudo para abrigar uma equipe de funcionários e catadores capacitados para tratarem o lixo. Em nenhum foi encontrado qualquer funcionário da Petrobras ou prefeitura. Apenas catadores e bichos.
As imagens mostram guaritas vazias e estruturas abandonadas. Casos vistos nos lixões de Alto do Rodrigues, Areia Branca, Caraúbas, Apodi, Guamaré e outros. Em Pau dos Ferros, o aterro sanitário, completamente abandonado, obteve financiamento federal do Ministério do Meio Ambiente. Flagrantes de dinheiro privado mal aproveitado e descaso do poder público com o meio ambiente, a saúde pública e, em muitos casos, com a questão social de catadores e crianças ainda em lixões.
Sérgio Pinheiro apontou o caso mais emblemático de desleixo com o dinheiro público, o aterro sanitário construído com recursos próprios em Macau. A estrutura de quatro células (espaços amplos e cavados para a colocação do lixo) prevista no projeto executivo foi desrespeitada. Apenas uma célula foi cavada e já se encontra repleta. Pior: o lixo - ou lixão - ultrapassa e muito as dimensões da célula.
O projeto de um aterro sanitário semelhante foi executado em Mossoró. Com mesma estrutura: lagoa para evaporação de chorume, guaritas, tratores, balanças para pesar o lixo e até um ambiente para lavar pneus dos caminhões antes de voltarem à estrada. Das poucas diferenças, a projeção de seis células, em vez de quatro. Afora o aterro sanitário situado em Ceará-Mirim, o aterro de Mossoró é o único em pleno funcionamento. Nos outros, a imagem avassaladora de um mal que começa a despertar a preocupação das autoridades brasileiras e potiguares.
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