Repórter: Eliade Pimentel
Foto: João Maria Alves
PROBLEMA - Moradores de Morro Branco enfrentam a falta de água
A contaminação por nitrato dos poços da Caern já começa a comprometer o abastecimento de água em Natal. A administração do condomínio Dorian Gray, em Morro Branco, apelou para a compra de carros-pipas para solucionar a falta de água.
Nos últimos cinco anos, vinte e seis poços foram fechados, nos bairros Nova Descoberta, Morro Branco, Bom Pastor, Felipe Camarão, Bairro Nordeste e Capim Macio, por conterem índice de contaminação acima do permitido.
Desde segunda-feira, os reservatórios que abastecem os 60 apartamentos do condomínio localizado na avenida Rui Barbosa receberam fornecimento extra de 118 mil litros de água, ao custo de R$ 10 cada 10 mil litros. Ou seja, os condôminos pagarão taxa extra de R$ 19,66 por apartamento, se o abastecimento for regularizado logo. Caso contrário, o prejuízo pode ser maior.
“É uma verdadeira anarquia. A Caern alega que o problema é devido à desativação dos poços, mas que não tem previsão para ser solucionado”, reclamou o aposentado Júlio Nóbrega, 72 anos, preocupado com a dimensão do problema. A síndica Maria da Glória Cristo e Silva, 57, é moradora do condomínio há 10 anos e revelou que nunca testemunhou um problema semelhante.
“Foi um horror todo mundo acordar e não ter um pingo de água nas torneiras. O que a gente tinha armazenado acabou e o jeito foi comprar água. Essa despesa não estava prevista”, lamenta. Nas proximidades do condomínio, na rua Desembargador João Dantas Chaves, o problema também existe e persiste. A reportagem visitou uma das casas, por volta das 11h, e constatou a falta de água.
O gerente da regional Natal-Sul da Caern, engenheiro Isaías Costa Filho, desconhecia o problema do condomínio, acredita que não se trata de problema da companhia, mas reconhece a descontinuidade do abastecimento na rua conhecida como antiga Roselândia.
“A diminuição da vazão de água ocorrida com a desativação dos poços atinge alguns lugares mais altos, como é o caso dessa rua em Morro Branco e do bairro Nordeste”, explicou. O impacto do fechamento dos 26 poços reduziu a vazão do abastecimento de Natal à razão de 1.622 metros cúbicos de água por hora, o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Mossoró.
Água não tem pressão suficiente
O engenheiro Isaías Costa Filho, gerente da regional Natal/Sul, responsável pelo abastecimento das zonas Sul, Leste e Oeste de Natal, citou que o fechamento dos 26 poços contaminados por índices elevados de nitrato revela o excesso de zelo que a Caern tem pelo produto que distribui, a água.
No entanto, a providência para solucionar o problema causado pelo fechamento dos poços está vindo extremamente atrasada, visto que a população já sente o prejuízo. As obras de ampliação da adutora Jiqui - orçada em 13,6 milhões - começaram na última segunda-feira e devem ser concluídas no período de seis a doze meses.
Nesse meio tempo, o abastecimento tende a ficar comprometido principalmente nos lugares onde a pressão da rede não é plena, ou seja, nos lugares mais altos. Quando concluída, a nova adutora aumentará a vazão de 1.400 metros cúbicos para 2.600 metros cúbicos por hora e, segundo Isaías, resolverá não somente a questão da quantidade, mas principalmente, a qualidade da água.
O gerente da Natal/Sul acredita que logo após o verão o problema tende a diminuir, a tempo da nova adutora entrar em atividade. “A conclusão dependerá do avanço das obras”, foi reticente ao explicar o prazo estendido, de seis a doze meses, para que as obras sejam concluídas.
A terceira adutora da Lagoa do Jiqui virá pela avenida Ayrton Senna, terá uma derivação para abastecer o conjunto Pirangi, seguirá para Lagoa Nova, circundará o anel viário do campus universitário de onde desembocará para Nova Descoberta. Na altura do batalhão, abrirá outra derivação, para finalmente chegar ao reservatório 3 da Caern, na avenida Hermes da Fonseca, ao lado do hospital Walfredo Gurgel.
Prazo dado à Caern expira no próximo dia 28
O prazo concedido pela justiça para a Caern resolver todos os problemas relacionados à questão do abastecimento de água em Natal expira dia 28 de fevereiro. A nova adutora da Lagoa do Jiqui não será concluída nos próximos dias e a promotoria do Meio Ambiente entrará em ação mais uma vez.
A promotora Gilka da Mata explicou que a falta de água fere os princípios da continuidade dos serviços públicos essenciais. “E a água é um serviço essencial dos essenciais. Isso que nós estamos vivendo é o início de um colapso. Não é somente o problema da contaminação, mas é a falta de uma plano diretor de abastecimento de água”, acusa.
Na opinião da promotora, a Caern trabalha de forma amadora e deveria realizar um estudo sobre as demandas e sobre os mananciais. “A Lagoa do Jiqui não tem condições de abastecer por muito tempo. A companhia tem que buscar outros mananciais”.
No dia 28 de maio de 2007, a justiça se pronunciou sobre a ação civil pública requerida pelo Ministério Público, no sentido de que a Caern tomasse providências quanto à contaminação da água, que estava muito acima dos índices permitidos pela Organização Mundial de Saúde. O resultado foi o prazo concedido à companhia, de 28 de fevereiro deste ano.
“A concessionária de serviços públicos tem que prestar serviço seguro, sem risco à saúde humana, eficiente e contínuo”, concluiu Gilka da Mata. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define que a concentração de nitrato não deve ser acima de 10mg/l.
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