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.: Lavagem de dinheiro em Ponta Negra utilizava o mercado mercado imobiliário como 'sabão em pó'

TRIBUNA DO NORTE - 18/dez/2009
Repórter: Isaac Lira
Foto: Alex Régis


Empresas têm atuação variada no RN

As empresas investigadas pela Polícia Federal sob a suspeita de ser fachada para a lavagem de dinheiro de uma quadrilha internacional de tráfico de drogas têm uma atuação variada na capital potiguar. De acordo com informações obtidas pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, a área mais forte de atuação das 12 empresas sob o comando de Salvador Costa Arostegui (preso na Espanha) único nome a constar da lista de provas distribuídas pela Polícia Federal à imprensa, é o ramo de imobiliária e construtora.

O bar e restaurante Extravasa, localizado no Centro Comercial Jardim, foi ontem o principal alvo da Operação Cristal, da PFAs informações dizem respeito aos registros de firmas abertas sob o nome do suspeito que aparece na investigação da Polícia Federal em Natal. Sob essa perspectiva, o ramo de imóveis, tanto de construção quanto de negociação de prédios prontos, é a “estrela da Companhia”. São cinco imobiliárias e duas construtoras ligadas a Salvador Arostegui. Uma busca na internet é suficiente para identificar vários pedidos de licença ambiental para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) nos últimos anos. Em uma deles, no Diário Oficial do Município do dia oito de janeiro de 2008, a licença é requisitada em nome do próprio Salvador. No caso, o pedido é de instalação de um flat residencial no Alto de Ponta Negra. Não há especificação do tamanho do empreendimento.

Logo em seguida no leque de negócios, está o ramo de restaurante e entretenimento. Salvador Arostegui é proprietário de uma churrascaria e um bar Karaokê, além de ser representante legal de mais um restaurante. A lista fica completa com uma empresa de comércio internacional de roupas e dois empreendimentos “genéricos”. O primeiro está registrado como “de serviços” e a segunda se trata de uma “multi-administradora”, de acordo com os registros obtidos pela TRIBUNA DO NORTE.

O número de empresas – 12 no total – não coincide necessariamente com o número de imóveis ou com o patrimônio em questão. De acordo com relato de moradores do Alto de Ponta Negra e de pessoas que conheceram Salvador Arostegui, a maioria dos imóveis e restaurantes localizados no Alto de Ponta Negra é de propriedade do espanhol. Um dos advogados do suspeito, contactado pela reportagem, confirmou que o número de empreendimentos é vasto, embora se negasse a identificar quantos e quais por uma questão de “ética profissional”.

Um dos proprietários de imóveis e vizinho do espanhol, Antônio Bezerril, conta que a postura de Salvador Arostegui quando se fala em negócios é agressiva. “Ele ofereceu R$ 400 mil reais pelo meu ponto. Na época eu não quis vender e me arrependi”, fala. O preço, de acordo com o proprietário, estava acima do valor de mercado. “Era comum, ele sempre oferecia um valor acima. Por aqui ele é proprietário de inúmeros imóveis”, afirma.

O Centro Comercial Jardim, um dos principais alvos da operação da PF, e que é composto de lojas de artesanato, bares, boates, entre outros – pertencentes a outras pessoas, não ligadas à operação da PF - foi adquirido numa compra milionária. “Fala-se em algo que gira em torno dos R$ 4 milhões”, espanta-se Antônio Bezerril.

Empreendimentos estão em funcionamento no RN

Segundo informações da Justiça Federal, os empreendimentos investigados pela Polícia como possíveis fachadas para lavagem de dinheiro irão continuar em funcionamento. O que é vedado pela Justiça é a venda, em qualquer nível, dessas empresas. Ontem, o principal alvo da Operação Cristal, deflagrada pela Polícia Federal, o bar e restaurante Extravasa, localizado no Centro Comercial Jardim, funcionou normalmente.

Os dois empreendimentos, ambos de propriedade do espanhol Salvador Costa Arostegui tiram o sono dos demais empresários da região, de acordo com o proprietário do imóvel localizado defronte ao Centro Comercial, Antônio Bezerril. Segundo Antônio, que mora em São Paulo e administra de longe o seu imóvel, o Centro Comercial e o Bar Extravasa são um dos mais movimentados e famosos pontos de prostituição do Alto de Ponta Negra.

“São bares que abrem durante toda a madrugada e têm 90% do seu público formado por gringos e prostitutas. Há dias em que até mesmo às 06h30, quando o sol já saiu, existe barulho de música saindo do local”, diz Antônio Bezerril. E complementa: “Já fizemos vários abaixo-assinados para entregar ao Ministério Público e tentar acabar com a degradação da rua, mas nunca deu em nada”.

Segundo Antônio Bezerril, o movimento de prostituição nos arredores do Centro Comercial, com seus bares e clientes gringos, é motivo de progressiva desvalorização dos empreendimentos vizinhos. “Já ofereceram bastante dinheiro por esse prédio que eu possuo, mas hoje sofremos com a desvalorização”, diz. O bar que funcionava no prédio de Bezerril foi à falência e está desocupado. “Vim de São Paulo para cá cuidar desse prédio vago”, conta.

Como Salvador Arostegui é famoso no Alto de Ponta Negra, a notícia da batida policial nos negócios do espanhol se espalhou rapidamente. Uma rápida caminhada pelas ruas daquela região mostra que todos conheciam “Salvatori”, como também é chamado. Entre esses anônimos, que ontem transitavam curiosos pelas ruas do Alto, está Igor Veles, que se identificou como cunhado de Salvador.

Igor falou que a família está “arrasada” com a prisão do espanhol, mas que acredita na inocência do suspeito. O cunhado de Salvador disse não ter detalhes dos negócios do empresário. “Sei que sempre trabalhou no ramo imobiliário e honestamente. É tudo mentira da Polícia”, lamenta. Igor teve a casa revistada pela Polícia Federal, de acordo com o que o mesmo informou. A PF apreendeu um computador.

Vida regrada

Segundo moradores e trabalhadores do Alto de Ponta Negra, Salvador Arostegui é um homem de vida regrada. Ele passa poucos dias no ano em Natal e quando chega à cidade está sempre em contato com as suas empresas. “Ele vem aqui e trabalha diretamente no bar e no restaurante. Trabalha com os funcionários. É uma pessoa simples”, diz Antonio Bezerril, que conheceu Salvador.

O cunhado Igor Teles disse que o perfil de Salvador em nada coincide com o que “se esperaria de um traficante”. “Ele é calmo, não bebe, não fuma, não usa drogas. Não tem nada a ver com essa acusação”, assegura.

O espanhol já respondeu também por processo na Espanha, pelo qual foi condenado, primeiramente, mas anos depois ganhou clemência do Ministro da Justiça Ángel Acebes Paniagua, seguindo deliberação do Conselho de Ministros. O processo trata da acusação de contrabando e é referente ao período de 1982 a 1984. A clemência foi concedida no dia 1 de dezembro de 2000.

# Saiba mais sobre a Operação Cristal:

17/dez/2009 - Operação desmantela quadrilha


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