Agressão aos morros
por Nei Leandro de Castro - Escritor
Neste sábado, antevéspera do Natal, estarei abraçando simbolicamente o morro do Careca. É uma forma de ser solidário com Yuno Silva, o jornalista que denunciou a agressão ao meio-ambiente e desencadeou a campanha em favor da preservação de um dos mais belos monumentos naturais do nosso Estado. É uma forma de ser solidário com o Ministério Público estadual e com o prefeito Carlos Eduardo, que estão enfrentando, sem medo e sem mácula, adversários poderosos. É uma forma de abraçar e dar parabéns ao publicitário que se negou a fazer a campanha das empresas imobiliárias que estão esperneando para construir espigões no entorno do morro. Ao que se sabe, o publicitário deu a sua sincera e corajosa opinião na frente do cliente e, obviamente, foi demitido.
No simbolismo de abraçar o morro, estaremos abraçando a causa de cada uma dessas partes que não precisam pedir solidariedade, nós é que devemos levá-la, sem outra intenção que não a de combater o bom combate, a de preservar nossas paisagens e riquezas naturais, a de enfrentar a arbitrariedade dos que pensam que o dinheiro pode comprar tudo.
Nas páginas dos jornais dá pra notar que os empresários do setor imobiliário estão gastando uma boa verba com publicidade, com o objetivo de levar a melhor na briga em que se meteram. Em anúncio de página inteira, eles pedem que lhes deixem fazer o que sabem, ou seja, construir, preservar o meio ambiente e gerar empregos. Construir, tudo bem, é a função deles.
Gerar empregos é o óbvio. Mas preservar o meio ambiente, espere aí, é brincadeira, não é? Eu e a torcida do meu América e a do ABC sempre soubemos que por onde passa uma especulação imobiliária não nasce grama, só grana. Se dependesse das empresas de construção, o morro do Careca já teria sido demolido há muito tempo. E em seu lugar haveria um edifício de trinta andares, um apartamento por andar, com o sugestivo nome de Condomínio Bald’s Hill.
Ainda sobre preservação ambiental: na semana passada, registrei aqui a agressão em trecho do morro do Tirol, nas proximidades do complexo educacional Escola Doméstica/Henrique Castriciano. Falei dos bolsões de sujeira causados pelo lixo despejado no verde, denunciei uma nova construção clandestina além dos limites impostos pelo poder público. E atribuí à Semurb, secretaria municipal, a guarda e o zelo daquele trecho.
Soube posteriormente que é o Idema – Instituto de Defesa do Meio-Ambiente – o responsável pela proteção dos morros e dunas da cidade. Sendo assim, transfiro para aquele instituto, que tem uma nobre e delicada missão, o apelo que fiz à Semurb, em nome dos morros do Tirol, da cidade, das pessoas que amam Natal. É necessário que se faça, o mais depressa possível, uma análise da situação e que sejam tomadas as medidas necessárias. Tudo dentro da lei. E não pode haver descaso.
Falar nisso, há cerca de sete dias, vi uma fumaça surgindo no trecho do morro onde estão ocorrendo essas irregularidades. Liguei para o Corpo de Bombeiros, me identifiquei, disse que havia risco do fogo se alastrar. O bombeiro agradeceu, disse que tomaria providências dentro da maior brevidade, e não apareceu ninguém. Por sorte, o fogo não evoluiu, não atingiu os trechos de folhas secas, o que poderia ter sido um desastre.
# artigo publicado dia 22/12/2006 no jornal Tribuna do Norte
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