O abraço ao Morro do Careca
por Aluízio Torres
Agiram bem os empresários da construção civil recuando do enfrentamento que pretendiam contra o bom senso. De certa forma é compreensível que se julgavam ainda no tempo em que um prédio era construído sem garagem para os seus usuários avançando até a calçada, enfim, de jeito e maneira que desejassem. Esse tempo passou.
O desenvolvimento de uma cidade não pode ser medido pelo número de espigões construídos sem obediência às normas que regulam o direito de todos os cidadãos na horizontalidade dos direitos comuns. Assim como os automóveis não podem trafegar sobre as calçadas e os pedestres têm faixa própria de uso com segurança, também os prédios não podem ser construídos agredindo à natureza, ao meio ambiente, às ruas, às calçadas para ir e vir dos pedestres.
Quantos prédios de muitos andares existem hoje em Natal? Desde os primeiros, quando as normas não exigiam a construção de garagens, o recuo fronteiriço e a lateralidade até os que hoje são construídos obedecendo às normas que representam a defesa da cidade, dos transeuntes, dos pedestres e motorizados. E os próprios moradores? Com absoluta certeza, centenas, talvez mais um mil. Para se obter licença para a construção, por exemplo em Areia Preta, as normas hoje são muito mais exigentes do que eram cinco anos passados.
Ponta Negra é o maior cartão postal de Natal, vendida no Brasil e no exterior. Sua beleza, com uma paisagem ainda sobrevivente em meio a tantas agressões, ainda está no ponto para ser preservada. Outro exemplo é a Via Costeira. O dever de defender e preservar uma dádiva da mãe natureza se sobrepõe a quaisquer outros interesses, sejam políticos e econômicos; de grupos ou de pessoas.
A defesa do meio ambiente deve se estender não apenas a Ponta Negra e a Via Costeira, mas a toda a cidade. A posição adotada pela Prefeitura e pelo Ministério Público não é contra nenhum empresário individualmente; também não é contra um setor laborioso, a construção civil. É uma posição em defesa da cidade não importando se isso vai ferir interesses pessoais ou de grupos. Mesmo sendo legítimo o interesse de pessoas e grupos, eles não podem se sobrepor aos interesses da coletividade, os quais tanto a Prefeitura quanto o Ministério Público tem o dever de preserva-los. E essa é uma posição corajosa de seus titulares.
Os empresários da construção civil anunciam que vão participar do abraço ao Morro do Careca. Bravo! Que seja uma adesão verdadeira, sincera como os que tomaram a iniciativa em defesa da cidade com um gesto simbólico, altamente significativo, de corpo e alma. Guardiões da natureza, da riqueza do meio ambiente, formando a unanimidade da cidade agora defendida. De lamentar, apenas, que alguns tenham saído em condenação a uma artista consagrada - Rita Lee - que assumiu a bandeira de Natal.
Participemos todos do abraço ao morro do careca!
:: artigo publicado dia 22/12/2006 no jornal Tribuna do Norte
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