Idema aponta quais as praias poluídas
Repórter: Luciano Oséas
Foto: João Maria Alves
BALNEABILIDADE - Pirangi é uma das praias consideradas impróprias para banho
Conhecido pelo potencial turístico, principalmente por causa das belas praias, o Rio Grande do Norte ainda podera gozar desse prestígio por um bom tempo, ainda mais por ser beneficiado pelas correntes das ondas marinhas que chegam de sudeste e seguem para o norte contornando o litoral ajudando a dispersar toda e qualquer poluição produzida pela expansão imobiliaria.
Contudo, se você curte as praias do litoral potiguar, principalmente as localizadas em Natal e Parnamirim, deve ficar alerta às placas de identificação do IDEMA, que dão a indicação das condições da área para banho, pois a água contaminada por coliformes fecais pode causar doenças como gastroenterite, verminoses, doenças de pele e até doenças mais graves de veiculação hídrica como hepatite, cólera e febre tifóide, entre outras.
De acordo com o último relatório de avaliação das águas emitido no dia 23/3 e válidos por uma semana, com relação aos pontos de monitoração de Natal, as praias de Ponta Negra, próximo ao Morro do Careca; Mãe Luiza; Miami, onde fica o relógio solar e Areia Preta, próximo a jangada estão impróprias para banho por apresentarem uma alta concentração de coliformes fecais.
No Litoral Sul, as praias de Pirangi do Norte, em Parnamirim, e Pirangi do Sul, em Nísia Floresta, apresentaram condições impróprias para banho. No caso de Pirangi do Norte, onde fica o maior cajueiro do mundo, o problema se destaca, pois a praia recebe grande parte dos turistas que passam pelo Estado, além de contar com uma considerável população local, que acabam por ficar sem as informações necessárias, uma vez que a placa que dá o indicativo das condições de banho sofreu ações de vândalos e está toda pichada.
De acordo com a assessoria de comunicação do IDEMA, esse tipo de vandalismo era esperado, pois antes, as placas eram postas em um mastro de madeira que por sua vez eram extraviados.
Diante da situação, pratica atribuída aos comerciantes locais que temiam perder os fregueses, o órgão providenciou a implantagco de placas de metal com base de concreto. Como não conseguiram retirar o material do lugar, partiram para a pichação como forma de impedir que o banhista observe a indicação.
Para o coordenador dos estudos de balneabilidade do Programa Água Viva, o geólogo e professor Ronaldo Diniz, esse tipo de comportamento é um crime já que o cidadão esta sendo privado de um informação preventiva. "O IDEMA não é culpado pela poluição desses locais, mas como órgão de fiscalização ambiental tem a missão de informar a sociedade sobre as situações de risco. A solução desse problema é atribuição das Prefeituras que têm a obrigação de providenciar o esgotamento sanitário. Essa divulgação que fazemos dos locais impróprios para o banho deveria ser feita pelos órgãos de imprensa como forma de criar uma cultura no cidadão de observar se o local esta propício ao lazer", explicou.
O Projeto Estudo de Balneabilidade das Praias do Estado do Rio Grande do Norte está inserido no Programa Estadual Água Viva, e desde 2001 vem acompanhando os pontos do litoral com maior freqüência de banhistas.
O estudo é desenvolvido em todo os 410 quilômetros de costa do Rio Grande do Norte. Ao todo, são 58 pontos de avaliação, sendo que 40 praias, situadas na Grande Natal, são monitoradas semanalmente. A análise das demais são feitas nos períodos de alta estação, no caso, janeiro, fevereiro, julho e dezembro. O projeto também faz o acompanhamento de açudes e do rio Pium/Pirangi, só que uma vez por ano.
A análise segue orientação da Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que estabelece a condição de água imprópria para banho quando for identificada uma concentração acima de 1000 coliformes fecais por cada 100 miligramas analisados, levando em consideração condições de vento, temperatura da água, velocidade e direção das ondas. As amostras são recolhidas em profundidades de até um metro, nas proximidade de rios, riachos, valas e tubulações, ou seja, aqueles locais que potencialmente oferecem os maiores riscos à saúde dos banhistas.
A classificação como área imprspria para banho é fixada em placas de metais com as sinalizações verde, que garantem o banho, ou vermelha, que recomenda a não entrada na água. Os resultados dessas análises valem por uma semana, com a exceção de alguns pontos que só são feitos nos períodos de alta estação.
Em Natal, existem 15 pontos de coleta, onde se destacam como locais impróprios para banho alguns pontos da praia de Ponta Negra, a praia de Mãe Luiza, a praia de Miami, onde fica o Relógio do Sol e a Redinha, na parte do rio Potengi, em frente ao mercado.
Segundo o professor Ronaldo Diniz, com a exceção de Mãe Luiza, as outras localidades não apresentam uma série constante de água imprópria, pois essa condição sofre interferência direta da poluição oriunda da emissão de esgotos, em sua maioria ligações clandestinas, que são jogadas nas galerias pluviais que deveriam desaguar água das chuvas na praia.
"Contudo, o caso de Mãe Luiza é grave por apresentar níveis de contaminação altíssimos. Para se ter uma idéia, a média de coliformes fecais constatada anualmente nessa praia gira em torno de 5.000 CFs por cada 100 miligramas. Isso é só uma média histórica, pois já aconteceu de identificarmos em uma das amostras um concentração com cerca de 100 mil coliformes fecais. É um prejuízo para a população, uma situação que só se resolve com uma grande obra de esgotamento sanitário da região, pois toda água servida do bairro é jogado diretamente na praia. No caso da Redinha, o problema é o esgoto jogado direto no rio Potengi, mas não é sempre que a água esta imprópria para banho, mesmo assim, aconselharia as pessoas a tomarem banho nos permodos de maré cheia. Já em Ponta Negra, os locais que apresentavam contaminação tiveram uma melhora, pois algumas obras feitas na rede de esgotos fizeram com que a vazão de dejetos diminuísse sensivelmente e como temos uma movimentação das ondas no sentido sudeste que leva as correntes para o norte esse pequeno nível de contaminação é diluído. Mas é fato que todas as regiões analisadas, nos períodos de chuvas, ficam sujeitas à contaminação", observou.
Entre as praias da Grande Natal, o maior nível de contaminação fica no município de Parnamirim, especificamente, a praia de Pirangi do Sul, que recebe as águas do rio Pium/Pirangi, que funciona como uma espécie de esgoto a céu aberto.
Caern anuncia providências tomadas
Quanto aos problemas relacionados às praias de Natal, a Caern informou que serão solucionados em parte com as obras de esgotamento sanitário previstas, além da conclusão da Estação Central de Tratamento de Esgotos do Baldo, que lançará ao rio efluentes tratados. Essa estação receberá o excesso da rede de esgotos dos bairros da região Leste que estão próximos às praias. Com relação específica à Mãe Luiza, a Caern está com as obras de esgotamento sanitário em andamento. Os problemas de Ponta Negra serão amenizados com a ampliação das estações elevatórias de esgotos.
Segundo a promotora de Meio Ambiente e Urbanismo, Gilka da Mata, o MP tem várias ações tramitando na Justiça, onde o foco principal é a questão do esgotamento sanitário. “No último dia 27/3 tivemos uma reunião na Câmara, onde debatemos o problema do esgotamento sanitário da cidade com o legislativo, representantes da sociedade e conselhos.
Moradores cobram ação do poder público
Sobre a poluição da praia de Pirangi do Norte, a população local se mostra indignada e sem esperança, uma vez que o problema já foi denunciado às autoridades públicas e divulgado inúmeras vezes à imprensa, mas nenhuma solução foi apontada. Segundo Cristina do Espírito Santo, moradora de Pirangi há sete anos, é revoltante morar em uma das mais belas praias do Estado e não poder tomar banho, além da praia poluída. A moradora também reclama do rio Pirangi, que ela chama de “esgotão”, pois recebe dejetos sólidos e água servida de todos os condomínios e residências que ficam próximos ao leito.
“Aqui é um desânimo motivado por uma indignação total, pois a comunidade reclamou, denunciou e nada foi feito. A prefeitura sabe fazer uma mobilização para retirada de animais da praia, mas não investe na rede de esgotamento sanitário e nem multa quem joga água servida no rio. Com relação à sujeira e contaminação oriundas dos animais eu concordo que tem que ser feito alguma coisa, mas quanto ao rio que polui a praia em proporções assustadoras ninguém toma providência. Chega a ser hilária a campanha para retirar animais da beira da praia com a finalidade de evitar doenças quando a própria água da praia está contaminada”, reclamou Cristina.
De acordo com a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento de Parnamirim, Josyanne Giesta, a prefeitura está viabilizando as obras de esgotamento sanitário de vários bairros do município, incluindo a região de Pirangi do Norte, além disso, estão desenvolvendo um trabalho de conscientização ambiental junto aos moradores explicando a importância de preservar o meio ambiente, além de desenvolver ações de fiscalização e autuação de infrações.
“Essa questão do esgotamento sanitário já foi discutida em janeiro com o IDEMA, que nos repassou as condições de balneabilidade e enfatizou a questão do saneamento. Com relação ao rio Pium, essa ação estamos desenvolvendo em conjunto com o município de Nísia Floresta. E enquanto as obras são concluídas o que podemos fazer é fiscalizar e orientar, pois muitas soluções surgem por meio da educação ambiental”, disse.
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