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SOS Ponta Negra: caminhos para solução, por Marco Lyra

24 de julho de 2012 - Fonte: Marco Lyra 




Desde 2010, a grande discussão no meio científico internacional é a necessidade de se buscar melhor eficácia nas ações para encontrar soluções que tragam benefícios ambientais no controle da erosão costeira. É preciso atingir metas de recuperação de praias com a utilização de um novo conceito de naturalidade, buscando nas soluções de engenharia a reconstituição da paisagem natural.
É importante observar que o desenvolvimento de um projeto de engenharia costeira deve ser coletivo, para que o produto final seja o melhor do ponto de vista técnico e econômico, e deve ser aceitável para os tomadores de decisão e de todos os parceiros do projeto.
A histórica e crescente ocupação da zona costeira aumentou significativamente a demanda por obras de infra-estrutura. Este fato resultou da intensa construção de obras, tais como, estradas, ferrovias, portos, etc. É comum a implantação destes empreendimentos próximos ou sobre os sistemas de dunas costeiras. Salienta-se que estes empreendimentos, quando mal localizados, acarretam prejuízos imensuráveis aos cofres públicos, que passam a administrar problemas em vez de gerar soluções compatíveis. No litoral do Brasil, existem inúmeros exemplos de destruição de empreendimentos públicos e privados, como conseqüência da má localização. Surgem assim as estruturas rígidas como muros de contenção, espigões, enrocamentos, gabiões, quebra-mares, que além de descaracterizarem a paisagem natural e identidade da frente de praia, na maioria das vezes constituem-se numa tentativa frustrada de conter o avanço do mar.

Observando-se o que está ocorrendo nas praias de Atafona, Bugia, Baia da Traição, Cabo Branco, Icaraí, Iparana, Itapoá, Janga, Maracaípe, Mucuri, Piedade, Ponta Negra, Pontal D’Areia dentre outras existentes no litoral brasileiro, verifica-se que o quadro existente é caótico.
É preciso analisar o problema dividindo as ações a serem adotadas em duas etapas: ações de curto prazo e ações de médio prazo.
Nas ações de curto prazo estão as emergências que ocorrem nas áreas já urbanizadas, onde as opções podem ser a remoção da população existente do local, como ocorreu no Povoado Cabeço em Sergipe, ou torna-se necessário a execução de obras de defesa costeira para conter o processo erosivo, como resposta ao desastre, a exemplo do que ocorreu na praia do Janga, Município do Paulista em Pernambuco. Lá foram construídos espigões, quebra-mares emersos e engorda artificial de praia.
Nas ações de médio prazo que também são urgentes, faz-se necessário implantar o Zoneamento Econômico e Ecológico Costeiro, em todos os municípios litorâneos, para que a partir da determinação dessas áreas, inclusive incluindo-as nos respectivos planos diretores das cidades, sejam elaborados planos de gerenciamento costeiro integrados, como instrumento para garantir o crescimento sustentável do litoral brasileiro.
Partindo da premissa da Teoria do Caos, pode-se afirmar que o ambiente litorâneo é um sistema dinâmico não-linear, no qual as implicações de seus integrantes individualmente são aleatórias e não previsíveis. Estes sistemas evoluem no tempo e no espaço, com um comportamento desequilibrado e aperiódico; seu estado futuro é extremamente dependente de seu estado atual, e pode ser mudado radicalmente a partir de mudanças no presente.
No geral a linha de costa é a fronteira da intercessão do ar, do mar e da terra. As interações físicas, que ocorrem nesta fronteira são por isso únicas, complexas, e difíceis de compreender. A linha da costa como um todo, e como parte integrante desta costa, as praias em particular, são sistemas extremamente dinâmicos e de uma variação continua no tempo e no espaço. Observando-se da praia para o mar, verifica-se o movimento caótico das ondas com suas alturas variando a cada avanço e recuo do mar, a intensidade do vento constantemente mudando de velocidade, grandes quantidades de areia se deslocando ao longo da linha de costa; tudo muda nesse ambiente em fração de segundos. Por outro lado, observando-se do mar para a praia, verifica-se o mesmo ambiente caótico, sendo a costa onde parece que todas as forças convergem. É como se a costa fosse um atrator caótico.
Dessa forma pode-se concluir que as praias e as zonas costeiras são as regiões onde se faz sentir a ação energética do mar sobre os continentes. É a costa o obstáculo no qual as ondas acabam por dissipar toda a sua energia.
Já reparou nas formas do litoral? Será que existem ilhas quadradas? A modelagem da linha de costa deve-se a um conjunto de forças complexas que atuam no ambiente costeiro, formando o padrão existente.
Depois do “Caos”, não se pode negligenciar os fatores pouco significativos, pois é no ambiente caótico que pequenas alterações podem gerar grandes transformações, pondo a perder projetos ou planos não preparados para essa ocorrência.
Antes de decidir qual alternativa escolher para controlar a erosão litorânea é necessário observar os seguintes fatores: Durabilidade da obra; Disponibilidade do material para construção; Custo de implantação; Impactos ambientais; e custo de manutenção da obra. É de fundamental importância observar o custo/benefício das obras implantadas, onde muitos municípios têm dificuldades financeiras para manter as obras em funcionamento.
Portanto, é importante observar na escolha da alternativa a ser utilizada para obra de defesa costeira, os seguintes critérios: A obra não deve interferir na dinâmica sedimentar, ser resistente e durável, conter o avanço do mar, dissipar a energia do trem de ondas, facilitar o acesso da população a praia recreativa, harmonizar a obra com o ambiente de forma a torná-la menos impactante, não transferir o processo erosivo para áreas adjacentes, promover a recuperação do perfil praial, e ter baixo custo de manutenção.
Nos últimos nove anos, foram construídos no litoral do Nordeste do Brasil, cinco Dissipadores de Energia Bagwall em condiçoes geográficas, geológicas, morfológicas e hidrodinâmicas completamente distintas, o resultado final, após a implantação destas obras, foi a contenção do avanço do mar e a recuperação da praia natural recreativa no local da intervenção.

 Praia do Icaraí - CE área degradada antes do Bagwall.

Praia do Icaraí - CE área recuperada após a construção do Bagwall.

1 comentários:

Jaime Guimarães Júnior | história | arqueologia | arquitetura disse...

Excelente texto do engenheiro Marco Lyra.

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