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Matéria TN 22/10 - Tradição da renda de bilro em Ponta Negra

Bilro, uma tradição de Ponta Negra

Mariana Cremonini - Repórter
Foto: Rodrigo Sena

RENDEIRA - Maria de Lourdes, 72, aprendeu a arte quando pequena

Reunidas todas as tardes em um pequeno ateliê ao lado da igreja da vila de Ponta Negra, as rendeiras de bilro tecem peças que podem demorar meses para serem finalizadas. Desde 1998, elas participam de uma cooperativa que hoje produz, vende e recebe visitantes de todo o País.

Quase todas aprenderam a arte com as mães e avós. Mas, hoje o bilro é pouco ensinado, não pela falta de vontade das rendeiras, mas porque quase não existem jovens interessadas em aprender.

Juntamente com as seis senhoras da vila, um grupo de estudantes de graduação e pós-graduação em engenharia de produção da UFRN, desenvolve um projeto a fim de resgatar e valorizar a renda de bilro. O estudo é coordenado pela professora do departamento de engenharia de produção, Maria Christine Werba Saldanha.

A professora, que é também ergonomista, montou em junho desse ano, um grupo multidisciplinar que conta com a participação de profissionais das áreas designer, medicina, ergonomia (ciência que procura a adaptação das tarefas ao homem) e segurança do trabalho. “São pessoas com vários olhares diferentes dentro de um mesmo projeto”, conta.

O projeto auxilia as rendeiras no desenvolvimento de produtos mais modernos e na melhoria das condições de trabalho a fim de valorizar a atividade artesanal.

Kleber da Silva Barros, designer e aluno do mestrado em engenharia de produção, desenvolveu junto com as mulheres da Vila uma série de produtos, baseados em temas referentes à cidade de Natal.

O desenvolvimento de novos designers ajuda na venda do bilro, principalmente para turistas. “Os novos modelos nunca vão sobrepor a renda tradicional, mas geram uma nova alternativa”, comentas Kleber da Silva Barros.

A idéia do projeto surgiu a partir de dois trabalhos realizados em 2005 e 2006 com uma turma de graduação em engenharia de produção. Alguns alunos pesquisaram as rendeiras de Ponta Negra e a história da renda de bilro. Depois disso, a professora Maria Christine Werba Saldanha teve a idéia de montar um grupo de estudo para desenvolver a pesquisa de forma mais sistematizada.

O projeto já participou de dois congressos nacionais na área de engenharia de produção, um em Fortaleza e outro em Curitiba. Além disso, foi apresentado na Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN (Cientec), que ocorreu na primeira semana de outubro. As rendeiras estiveram presentes no estande do projeto e puderam mostrar o trabalho aos visitantes.

Jovens não têm interesse em aprender

A renda de bilro existe desde o início da Vila de Ponta Negra e faz parte da cultura do bairro. Com o avanço do turismo, Ponta Negra tem passado por transformações que causaram uma mudança no meio de subsistência dos moradores locais. Muitas pessoas passaram a trabalhar em barracas na praia e o bilro foi deixado um pouco de lado.

A rendeira mais antiga da Vila é Maria de Lourdes de Lima, 72. Ela prefere ser chamada de Vó Maria. “É meu nome artístico”. Ela, como a maior parte das rendeiras de Ponta Negra, aprendeu o bilro ainda criança. “Um dia minha mãe me perguntou se eu queria aprender a fazer renda, eu disse que sim e ela pagou uma pessoa para me ensinar”, conta.

Vó Maria trabalhou em casas de família, lavou e passou roupa para fora mas nunca parou de rendar. A maior parte das rendeiras da Vila, não sobrevive do bilro. “Não consegui muito dinheiro, isso não dá muito”, afirmou Vó Maria.

Quase sempre, elas têm outra fonte de renda e o bilro é uma distração. Maria das Graças Costa da Silva, a Dona Graça, 57, aprendeu a renda aos sete anos porque toda a sua família fazia bilro. Ela que nasceu e foi crida na Vila de Ponta Negra, nunca deixou de rendar na almofada. “Fiz outros trabalhos, mas sempre trabalhava na almofada, seu eu trabalhasse de manhã, de tarde eu estava na almofada”, conta. Ela ensinou a arte para a filha e a neta. “Só que as duas não querem fazer, eu gostaria muito que elas fizessem”, lamenta.

Dona Lenira, 69 anos, começou a rendar aos sete anos quando pediu para a mãe ensiná-la.

Lenira de Oliveira Correia ensinou o bilro para as filhas, mas apenas uma segue a tradição. Ela também trabalhou “para fora”, como as amigas do ateliê. Durante 20 anos, Dona Lenira deixou o bilro de lado. “A venda estava ruim, aí eu fui trabalhar fora”, contou. Só retomou a atividade quando não podia mais fazer muito esforço.

Josefa Henrique de Lima, 60, é a mais tímida do ateliê. Dona Josefa tem um história bem parecida com a das amigas. Ela, assim como todas, gostaria que as filhas e netas dessem continuidade ao trabalho.

As rendeiras receiam que o bilro seja esquecido com o tempo, já que poucas jovens se interessam pela arte.

Aprendiz depois dos 50 anos Na cooperativa das rendeiras da Vila de Ponta Negra são 13 senhoras empenhadas na renda de toalhas, vestidos e camisetas. Dessas, duas são aprendizes, que começaram a aprender bilro com as mais experientes do grupo.

Maria Etelvina Barbosa Nunes, 55, veio de Sergipe há 30 anos e se encantou com a renda de bilro potiguar. “Lá não tem dessa”, conta. Dona Etelvina explicou que sempre teve vontade de aprender, mas só há dois anos é uma aprendiz. Ela trabalhava em casa e não tinha tempo para a renda.

Quando resolveu aprender se integrou ao grupo do ateliê de Vó Maria, a convite de Dona Graça. Hoje Dona Etelvina já produz peças que são vendidas para turistas. “Foi uma emoção boa”, contou sobre a primeira vez que vendeu uma peça sua. Ela pretende dar continuidade ao trabalho.

O que é a renda de bilro?

A renda de bilro surgiu no século XV, na Itália. Alguns anos depois, a arte foi levada para a França invadindo a Corte do Rei Luís XIV e também os centros produtores de Portugal. Com a colonização portuguesa, a renda chegou ao Brasil.

No Rio Grande do Norte, os trabalhos de renda de bilro são encontrados na região litorânea, principalmente nas cidades de Natal, Parnamirim e Nísia Floresta.

A renda de bilro de Ponta Negra é feita com a linha resistente, de forma manual, com auxílio da almofada, bilros, alfinetes e desenhos. São produzidas toalhas e caminhos de mesa, vestidos, camisetas e aplicações. Por ser um trabalho manual, pode demorar meses para que uma peça fique pronta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo site e a valorização da Renda de Bilro
http://rendadebilro.blogspot.com/

Anônimo disse...

Parabéns pelo site! Estava procurando almofada de bilro e achei esta página, porém ainda não achei onde posso comprar e qual o preço.

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